As novas soluções e tecnologias oferecidas pelas agtechs aos produtores criaram uma nova era no campo. Neste contexto, nasceram programas como o Agrostart, para ajudar a criar no agronegócio um ecossistema que atue tanto na preparação do empreendedor, quanto na […]
As novas soluções e tecnologias oferecidas pelas agtechs aos produtores criaram uma nova era no campo. Neste contexto, nasceram programas como o Agrostart, para ajudar a criar no agronegócio um ecossistema que atue tanto na preparação do empreendedor, quanto na entrega de soluções que de fato agreguem valor à cadeia agrícola.
Para falar sobre o assunto, conversamos com Almir Araujo Silva, Gerente de Marketing Digital da BASF – Marketing Regional América Latina – responsável pelo programa Agrostart. Confira a entrevista.
O que é o AgroStart, como ele funciona e consegue agregar valor ao agronegócio?
O Agrostart é um programa de aceleração de startups focado no agronegócio. Para desenvolvê-lo, a BASF fez uma parceria com a ACE, considerada a melhor aceleradora da América Latina pela LatAm Founders. O programa foi criado para trazer soluções que de fato impactam o agricultor e a cadeia agrícola. Ele faz isso através de cocriação, preparando melhor o empreendedor para que ele consiga solucionar pontos-dores do agronegócio, e os grandes desafios que o setor enfrenta.
E são muitos os desafios. Temos a questão do clima, das pragas e doenças, da integração da cadeia, de aumentar a produtividade para alimentar o mundo, e muitos outros. Por isso, desenvolvemos uma estratégia de Digital Farm e dentro dela incluímos a parte de relação à cocriação.
Pensando nisso, entregamos ao empreendedor o conhecimento e a expertise em agro da BASF, por meio de mentoria e acesso à infraestrutura da organização, além do investimento financeiro. Então, os empreendedores têm acesso ao mercado, para que eles consigam testar suas soluções e como se trata de um programa para a América Latina, eles têm também a oportunidade de buscar escalas para suas soluções de forma regional.
A ACE, que é a aceleradora, dá suporte com toda a metodologia de como fazer uma startup ser acelerada. É importantíssimo para uma stratup que está iniciando suas atividades que se tenha a metodologia correta para que ela teste e busque escala para seu produto.
As organizações atuam juntas para ajudar o empreendedor a conseguir sucesso com o seu produto e seu projeto.
Temos alguns desafios de mercado, que são agricultura de precisão, gestão da lavoura, automação, gestão de estoque e rastreabilidade. A partir desses desafios, os empreendedores realizam a inscrição no site e passam pelas etapas de avaliação. Desde agosto de 2016, já recebemos mais de 200 startups no programa e o engajamento está muito bom. Recebemos inscrições de diversos países e todas as startups recebem feedbacks de retorno para que consigam dar seus próximos passos.
Como vocês distinguem um bom projeto em meio às tantas ofertas e ideias que surgem hoje no mercado?
Costumamos brincar que o cemitério está cheio de boa ideias. Por que, às vezes, se tem várias boas ideias, mas poucas são aplicáveis à prática do agro. A aceleração não foca somente a ideia, ela atua mais em nível de produto – que pode estar em fase de protótipo ou já em uso em algum cliente para validação.
Muito mais do que a ideia, levamos em consideração a qualidade do time. Como são as pessoas que estão por trás dessa startup? Como são as pessoas que fazem parte desse time? São perfis que se complementam e vão conseguir atender tanto tecnicamente quanto buscar escala para essa solução? Se for, muito mais do que uma boa ideia, significa que os empreendedores vão conseguir sucesso nessa jornada.
No último Word Agritech, realizado na Califórnia/EUA, tivemos o primeiro painel LATAM que reuniu grandes líderes em agritech no mundo.
Na sua visão, qual o papel da América Latina no desenvolvimento de tecnologia para agricultura no mundo?
A América Latina já tem há algum tempo um papel fundamental no desenvolvimento de tecnologia para a agricultura. Não é a toa que o Brasil é um grande exportador de vários tipos de cultivos – com ótimo rendimento e produtividade na mesma quantidade de terra plantada – e isso só é possível com a tecnologia.
Porém, já está na hora de a região ser protagonista na tecnologia digital – e esse também é um dos objetivos do Agrostart. Isso ficou muito claro no painel LATAM realizado no Word Agritech. Acreditamos no potencial que a região tem. A grande verdade é que a gente sempre diz que o Brasil tem vocação para o agro, então porque não ter vocação também para criação de startups voltados para o agro?
No ano passado, um cálculo da Associação Brasileira de Startups, revelou que de quatro mil startups no Brasil, somente 1% era focada em agronegócio. Então, está na hora de fomentar esse ecossistema, para que as startups se desenvolvam e se preparem para o que a gente chama de “o maior trabalho da terra”, que é a agricultura.
Quais principais desafios precisamos superar no setor AgTech?
Passamos por algumas mudanças e revoluções tecnológicas na agricultura que não necessariamente tinham a ver com agtechs, mas acreditamos que elas estão aí para dar um impulso na nova agricultura, e claro, com toda nova tecnologia existem desafios a ser superados, como barreiras relacionadas à infraestrutura, à adoção e outras.
É normal, qualquer nova tecnologia deva passar por um período de teste, de crivo até que ela seja adotada e eu diria que as agtechs vão ter que superar dois. O primeiro é saber como gerar soluções que de fato trarão resultados no campo, resolvendo problemas reais dentro da fazenda – e para isso é preciso colocar a botina no campo e testar as soluções criadas. Já o segundo é em relação à preparação do empreendedor. Ele precisa estar melhor preparado, para conseguir atingir resultados de forma rápida e saber onde errou – e dessa forma ajustar e testar novamente, e assim por diante.
As AgTechs estão conseguindo quebrar o fenômeno chamado de ‘barreira de adoção’ e fazer com que os produtores incorporam a tecnologia às rotinas das fazendas?
É um movimento gradual. Claro que nós temos algumas barreiras, mas não é somente no contexto comportamental. O agricultor precisa ver a coisa acontecendo para realmente adotar. Mas também vivemos em um país com problemas de infraestrutura e eu diria que esse é um grande gargalo nessa barreira. A adoção é muito mais rápida se a infraestrutura suporta a tecnologia.
O que um produtor, que começa a investir em inovação, deve olhar nas empresas de tecnologia para que não se perca no mercado e saiba escolher exatamente um produto que agregue valor ao seu negócio?
Um produtor que avalia uma solução digital deve olhar o quanto aquilo vai trazer de facilidade para o dia a dia dele e não complexidade. Então, uma solução tem que ser fácil e proporcionar uma boa experiência, não só de uso, mas também de resultados. Seja na digitalização de algo que ele faça hoje manualmente, sejam modelos que o ajudem a avaliar melhor a provisão de safra ou a produtividade, ou no controle de pragas e doenças.
Eu acho fundamental que ele analise os benefícios dessa solução de fato, se ela tem integração com as soluções que ele já utiliza e se vai ser para ele um facilitador – e não um complicador que será esquecido um tempo depois.
Por outro lado, as startups precisam entender que quando elas oferecem uma solução elas precisam ser parceiras do produtor e ter a visão de ‘vamos caminhar juntos?’. Elas têm que se comprometer a levar para o produtor não só ganhos financeiros e lucro, mas também em sustentabilidade, certificações, melhor qualidade no produto para exportações, melhor qualidade de vida para o produtor e seus funcionários e outras melhorias.
Para os empreendedores eu aconselharia a ver o agro como oportunidade. Diria para se prepararem melhor, porque quanto mais estiverem preparados, mais soluções eles trarão.
Outras informações no site: agrostart.basf.com.
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