Por Bárbara Caldeira Entra safra, sai safra, e algumas preocupações se impõem de forma constante ao produtor rural. Dos inúmeros desafios que se fazem presentes no dia a dia do agronegócio, um parece ser unanimidade: o de encontrar pessoas qualificadas […]
Por Bárbara Caldeira
Entra safra, sai safra, e algumas preocupações se impõem de forma constante ao produtor rural. Dos inúmeros desafios que se fazem presentes no dia a dia do agronegócio, um parece ser unanimidade: o de encontrar pessoas qualificadas e engajadas para o trabalho no campo. As dificuldades vão além da seleção desses profissionais. Fazê-los permanecer parece ser a tarefa mais árdua.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a população mundial, em 2050, deve ultrapassar 9 bilhões de pessoas. Para suprir a demanda, a produção de alimentos precisa de um aumento de 60% até lá. O Brasil, segundo essa projeção, tem potencial para conquistar o topo do ranking das exportações globais de produtos agrícolas.
Números da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram que o setor liderou a economia brasileira em 2016, aumentando de 21,5% para 23% sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) e passando a representar 48% das exportações totais do país.
O cenário é, então, dos mais promissores, o que deixa os produtores rurais ainda mais intrigados: se está na cara que esse é um bom negócio para se trabalhar, porque é tão difícil conseguir a adesão de profissionais qualificados no campo? Para a coordenadora da Área de Formação Inicial e Continuada do Departamento de Educação Profissional e Promoção Social (DEPPS) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Fabiana Márcia de Rezende Yehia, a evasão de pessoas do campo para a cidade é um dos fatores que explicam tal escassez.
“O êxodo rural é um fenômeno observável, o que culmina no envelhecimento e redução da população que reside e atua no campo”, afirma. Fabiana acredita que a contínua redução da população rural, associada às migrações e à queda da taxa de fecundidade, diminui os sucessores para a atividade agrícola em todas as regiões.
Ela destaca, porém, que os desafios para acessar mão de obra qualificada não estão restritos ao agronegócio, mas também se fazem presentes em outros setores produtivos, como a indústria, o comércio, a prestação de serviços. “Há um descompasso entre os ritmos de geração e adoção de tecnologia nos processos produtivos e a formação compatível e adequada das pessoas para as demandas dos novos postos de trabalho”, explica.
Para o professor e administrador Adalberto Bião, diretor da unidade de Mato Grosso da Proativa Brasil, que atua na área de educação organizacional, e cofundador do Grupo AgroGente, a abordagem dessa dificuldade de encontrar mão de obra qualificada para o campo é responsável por grande parte da falta de competitividade das empresas, inibindo o desenvolvimento organizacional.
“Um gestor que procura mão de obra qualificada se isenta do seu principal papel na organização, que é o de desenvolver pessoas, ou seja, ser líder” argumenta. Adalberto ressalta que os principais grupos empresariais não procuram soluções prontas no mercado, mas desenvolvem as suas próprias. “O maior gerador de valor de qualquer negócio são as pessoas que o representam.
Por essa razão, o recurso humano também precisa ser trabalhado pelas organizações, juntamente com a sua cultura e modelo de negócio”, expõe.
Desenvolvendo talentos: como identificar os perfis férteis
Encontrar profissionais prontos é praticamente impossível. Cada agronegócio, com sua série de particularidades, demanda uma qualificação que muitas vezes só pode ser desenvolvida quando aliada à experiência na função, principalmente por conta da significativa presença da tecnologia, muitas vezes bem específica, no dia a dia da fazenda. “As empresas que disparam na frente para obter tecnologia de ponta são as mesmas que buscam profissionais qualificados e interessados para lidar com essas constantes transformações”, nota Aline Gabriel Barroso, supervisora de Recursos Humanos com atuação no agronegócio.
Para a especialista em Gestão Estratégica de Pessoas, existem características positivas que são bons pontos de partida. Ela revela que, em geral, as organizações buscam profissionais que tenham comprometimento, capacidade de adaptação às mudanças, sejam pontuais e apresentem vontade e curiosidade para aprender. A competência de trabalhar em equipe também é valorizada, já que muitas das vagas disponibilizadas são para atuar e morar em fazendas.
“A convivência fora do expediente faz com que os colegas de trabalho se encontrem nos refeitórios e alojamentos, criando um vínculo maior e mais afetivo. Saber lidar com as diferenças é primordial para um bom convívio na zona rural”, afirma Aline. Essa habilidade é destacada por Adalberto: “em todos os segmentos, vemos pessoas altamente qualificadas sendo descontinuadas nas empresas pelo comportamento. A inteligência emocional é a base para qualquer ser humano ter o autoconhecimento e a estrutura para absorver essas demandas constantes de aprimoramento e lidar com a pressão”, diz.
Essa habilidade deve não apenas ser procurada nos colaboradores no momento da seleção e fomentada durante seu tempo na organização, mas praticada pelo próprio agronegócio na gestão de pessoas. Aline, que veio de São Paulo, onde atuou por sete anos em uma empresa que lidava com diversas áreas de atuação, exceto agronegócio, sentiu as diferenças e teve que se adaptar quando passou a supervisionar o RH de uma companhia agropecuária em Mato Grosso.
Acostumada a usar palavras formais comuns no mercado paulistano, ela rapidamente percebeu que quem trabalha no meio rural prefere uma comunicação mais simples e afetiva, seja qual for o cargo ocupado. “As pessoas que estão no campo, debaixo do sol, muitas vezes longe de suas famílias, desejam acolhimento de um jeito descomplicado”, comenta.
Para ver seu negócio crescer, o produtor rural deve investir em desenvolvimento de pessoas, entendendo o que os colaboradores anseiam, para conseguir fidelizar seu pessoal em um mercado no qual a mão de obra é cada vez mais disputada, já que o agronegócio tem sido destaque na geração de postos de trabalho. Fabiana Yehia lembra que o Brasil conquistou o posto de maior exportador mundial de café, carne bovina e de aves, sucos, açúcar e álcool. “Temos uma pauta diversificada de produtos agropecuários e uma extensa lista de clientes.
O país comercializa cerca de 1,5 mil produtos diferentes para mais de 200 mercados na Europa, Ásia, África, Américas e Oriente Médio”, pontua. Para ela, mesclar as demandas do setor com as necessidades de qualificação torna-se imprescindível. “Os processos agrossilvipastoris são complexos, com níveis variados de sofisticação de suas operações. O setor precisa de novos talentos, de gente qualificada, com espírito empreendedor e disposição para contribuir e aprender”, defende.
Fabiana acredita que, nesse cenário, perdem espaço a mão de obra meramente operacional e automática e os profissionais de bagagem somente técnica. Ganham terreno, por sua vez, as funções de caráter estratégico, com visão gerencial e mercadológica, em cada uma das escalas de produção. “Os requisitos de profissionalização da cadeia produtiva, desde o laboratório de pesquisa até o ponto de venda no supermercado, além inúmeras outras atividades ao longo de todas as etapas, demandam novas habilidades, competências e atitudes”, afirma.
A alta rotatividade: múltiplos prejuízos para o agronegócio
A situação é frequente: um colaborador foi admitido na fazenda para determinada função. Na fase de adaptação, foi aprendendo mais sobre o negócio, os processos, adquirindo experiência. No momento em que ele começa a entregar resultados, pede demissão.
A alta rotatividade de pessoal no campo é um fenômeno perceptível que afeta o agronegócio como um todo. “Além das consequências financeiras por conta das constantes admissões e desligamentos, provoca perda da motivação entre os colaboradores, o que acaba gerando problemas de produtividade”, explica Aline.
O agronegócio precisa, assim, reter as pessoas que conseguiu qualificar e qualificar quem permanece. Para Bião, o primeiro passo do produtor diante desse problema é enxergar pessoas como talentos. Para essa compreensão e para tomar decisões estratégicas a partir dela é imprescindível, de acordo com o especialista, que o produtor rural responda a alguns questionamentos.
“É preciso pensar: o que a empresa considera como talento? O que cada pessoa deve entregar de valor para o negócio? Qual investimento adequado para fomentar o desenvolvimento interno? Como criar um ambiente estimulante para a inovação?”, lista.
De acordo com Adalberto, para isso, o agronegócio deve contar com um setor de Recursos Humanos estruturado, entendido não apenas como porta de entrada e saída de colaboradores, mas como a área de desenvolvimento humano e organizacional da fazenda. “Ocupando uma posição estratégica na tomada de decisão, esse departamento é provedor de ferramentas para o monitoramento da performance individual e coletiva dos trabalhadores, auxiliando na definição e manutenção de metas e objetivos pessoais e globais”, analisa.
Ele ressalta que existe um papel fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento, que deve ser conduzido pelo RH, mas que ainda tem pouca adesão das organizações: o endomarketing. “O agronegócio deve se promover internamente, qualificando os canais de comunicação, a gestão de conflitos e os feedbacks internos”, afirma, destacando que a comunicação é a principal ferramenta para o líder planejar, orientar, conduzir, corrigir e desenvolver pessoas nos processos diários.
Qualificação dos funcionários: investimento, e não custo, para o produtor rural
Para garantir que mão de obra qualificada atue no seu negócio, o produtor rural deve, então, estar disposto a desenvolver pessoas, qualificando-as para que exerçam suas atividades com excelência. Para Adalberto, há a necessidade de desenvolver programas de aprimoramento com enfoque na alta performance das equipes visando a formação de novos líderes, e não apenas oferecer treinamentos isolados.
“Assim, iremos atacar os inimigos da produtividade que às vezes não percebemos, como desperdício, retrabalho, ociosidade, má utilização de equipamentos e recursos, além de falta de engajamento”, diz.
Para Aline Barroso, treinamentos, cursos e palestras são importantes para qualificar e desenvolver ainda mais os profissionais do agronegócio, sobretudo considerando o fato de que muitas funções não possuem cursos de graduação ou especialização específicos. “Além de atender à necessidade de qualificação, os treinamentos são pontes para uma estratégia de retenção e competitividade, embora muitas organizações ainda sigam pecando neste item”, pondera.
Para a especialista, é necessário olhar com cuidado para cada equipe e cada integrante do negócio, com o objetivo de identificar o que falta, e oferecer alternativas para suprir essas carências, sejam técnicas ou comportamentais.
Adalberto ressalta o trabalho de entidades como a CNA e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) no esforço de qualificação do setor no Brasil, além das ações do SENAR e dos sindicatos rurais.
Fabiana explica que, para investir na capacitação contínua de si mesmos e de seus trabalhadores, muitos produtores buscam no SENAR ou nos fornecedores de maquinário e insumos a qualificação necessária para o atendimento de quesitos previstos em legislação ou as mudanças tecnológicas que chegam às fazendas. “Em cada estado, os produtores contribuintes, por meio do sindicato regional, ou em contato direto com a instituição, podem acessar o portfólio de ofertas previstas ou solicitar a customização que atenda às suas necessidades”, elucida. Ou seja: os produtores rurais podem contar com uma ampla rede para auxiliá-los na missão de qualificar sua mão de obra e desenvolver pessoas dentro do agronegócio.
Ela conta que o SENAR oferta cursos e treinamentos classificados como Educação Não Formal e Educação Formal no intuito de contribuir para um cenário de crescente desenvolvimento da produção sustentável, da competitividade e de avanços sociais no campo.
A formação inicial consiste na educação profissional destinada a qualificar jovens e adultos, independentemente de escolaridade prévia, compreendendo aprendizagem rural e qualificação profissional básica. A formação continuada é o processo educativo que se realiza ao longo da vida, com a finalidade de desenvolver competências complementares, incluindo, quando necessário, a elevação da escolaridade básica do cidadão. Já os cursos de educação formal técnica são habilitações de nível médio que buscam formar o aluno com conhecimentos teóricos e práticos nas diversas atividades do setor produtivo, garantindo acesso imediato ao mercado de trabalho.
A educação formal tecnológica, por sua vez, engloba cursos de graduação e pós-graduação, na modalidade presencial e a distância. Fabiana frisa que, somente em 2015, mais de 4,5 milhões de produtores, trabalhadores rurais e pessoas inseridas no agronegócio participaram dos cursos, treinamentos e atividades ofertados pelo SENAR em todo país.
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