Lagarta desfolhadora: praga do sistema soja-milho-algodão - Syngenta Digital
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Lagarta desfolhadora: praga do sistema soja-milho-algodão

4 min de leitura

Texto escrito em parceria com Joacir do Nascimento, Eng. Agrônomo, Mestre e Doutorando em Entomologia Agrícola na Unesp/FCAV-Jaboticabal. Atualmente desenvolve pesquisas voltadas para o manejo microbiológico de pragas e é sócio administrador da página @mipemfoco. O sistema soja-milho-algodão proporciona uma […]

por Ana Carolina Abreu
28 de janeiro de 2022
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Lagarta desfolhadora: praga do sistema soja-milho-algodão - Syngenta Digital

Texto escrito em parceria com Joacir do Nascimento, Eng. Agrônomo, Mestre e Doutorando em Entomologia Agrícola na Unesp/FCAV-Jaboticabal. Atualmente desenvolve pesquisas voltadas para o manejo microbiológico de pragas e é sócio administrador da página @mipemfoco.

O sistema soja-milho-algodão proporciona uma “ponte verde” para início de fluxos de dispersão de pragas, dentre esses insetos podemos destacar a lagarta desfolhadora, com a ocorrência de várias espécies. No entanto, no atual sistema, 3 grupos principais demandam maior atenção: Complexo Heliothinae, Spodoptera e Plusiinae.

Índice

Complexo Heliothinae das lagartas desfolhadoras

No Brasil, atualmente existem 3 espécies que pertencem ao complexo, sendo elas Chloridea virescens, Helicoverpa zea e Helicoverpa armigera (Figura 1). As duas primeiras espécies são amplamente distribuídas no território nacional, sendo conhecidas como lagarta-da-maçã do algodoeiro e lagarta da espiga do milho, respectivamente.

A terceira espécie não era encontrada no Brasil até meados de 2012, no entanto, sua ocorrência foi observada em 2013 em cultivos de soja e algodão em Mato Grosso, Bahia e Goiás. Os danos de ambas as espécies são significativos, uma vez que se alimentam das estruturas reprodutivas das plantas.

3 tipos de lagartas aparecendo em sequência
Figura 1. Lagartas de Chloridea virescens (a), Helicoverpa zea (b) e Helicoverpa armigera (c)

A Helicoverpa armigera ou também chamada de lagarta helicoverpa, destaca-se das demais espécies do complexo. A confirmação do seu aparecimento marcou o aumento do número de pulverizações para o controle de pragas, devido ao dano extremamente agressivo da espécie.

Sua ocorrência pode acontecer desde e o início do cultivo, se alimentando de plântulas e passando para o limbo foliar e estruturas reprodutivas, conforme a planta se desenvolve. Além do hábito alimentar agressivo, outro problema é que os inseticidas que controlam as lagartas da maçã e da espiga, apresentam baixa eficiência de controle de helicoverpa, principalmente lagartas maiores. Isso pode estar associado ao elevado número de casos de resistência reportados em outros países, previamente ao relato de ocorrência desta espécie no Brasil.

Outro problema associado ao complexo, é a dificuldade de classificar a espécie no estágio larval devido à semelhança entre elas. Alguns pesquisadores argumentam que a introdução da lagarta helicoverpa no Brasil pode ter ocorrido muito antes da Safra 12/13, uma vez que a identificação incorreta pode ter impedido a observação de sua ocorrência em campo com maior rapidez.

Apesar da semelhança, algumas diferenças podem auxiliar na diferenciação das espécies, embora a distinção entre Chloridea virescens e as outras espécies do gênero Helicoverpa seja mais fácil (Figura 2).

Características dos espinhos das lagartas
Figura 2: Características morfológicas dos microespinhos no segmento abdominal de Chloridea. virescens (a) e Helicoverpa. armigera (b). Fonte: Capinera, J. L.

Tanto os adultos (mariposa) como a aparência dos microespinhos presentes nas lagartas, apresentam características morfológicas que permitem diferenciá-las. As espécies de H. zea e H. armigera também podem ser diferenciadas através da análise da genitália e análise molecular.

Além disso, H. armigera apresenta o comportamento característico conhecido como “pescoço de ganso” quando perturbada (Figura 3). Quanto a importância, a espécie também têm registrado maiores danos ao sistema produtivo.

Lagarta_desfolhadeira da espécie pescoço de ganso andando em uma folha verde
Figura 3- Comportamento característico de H. armigera conhecido como “pescoço de ganso” quando as lagartas são perturbadas.

Complexo Spodoptera

Atualmente no Brasil, existem quatro espécies de Spodoptera que possuem papel de destaque no cenário agrícola: S. frugiperda, S. cosmioides, S. eridania e S. Albula (Figura 4). Ambas as espécies encontram amplamente disseminadas no sistema soja-milho-algodão.

Espécies de 4 lagartas diferentes
Figura 4. Lagartas de Spodoptera frugiperda (a), Spodoptera cosmioides (b), Spodoptera eridania (c) e Spodoptera Albula (d).

Spodoptera frugiperda

Considerada por muitos a principal espécie desse complexo, é considerada há muito tempo a principal praga do milho, principalmente pelas características de ataque à região do cartucho, nos estádios de V3 a V8. A espécie causa injúrias significativas na base da espiga, danificando os grãos e ocasionando aberturas que favorecem a entrada e disseminação de microrganismos. Além disso, os prejuízos causados na cultura do milho têm aumentado nos últimos anos devido às características de injúria semelhante às causadas pela lagarta-rosca, Agrotis ipsilon, fato que reafirma a importância dessa espécie como praga chave da cultura.

Quando falamos dessa espécie na cultura da soja, a sua importância começou a ser notada após o início da comercialização da soja IntactaTM, tecnologia transgênica em soja que expressa a toxina Cry1Ac na planta. A transgenia proporcionou o controle da principal lagarta desfolhadora na cultura da soja até então, a lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis. Todavia, a S. frugiperda apresenta baixa suscetibilidade a essa proteína Bt que, em outras palavras, não tem a capacidade de ocasionar elevadas taxas de mortalidade. Nessa cultura, S. frugiperda também tem causado injúria semelhante à larga rosca, principalmente em áreas com ocorrência de períodos de veranico, onde os danos são mais significantes.

No cultivo do algodão, além de injúrias em plântulas como citado nas culturas anteriores, a praga causa danos às brácteas dos botões florais, flores e, principalmente, nas maçãs. Diante disso, devido ao elevado valor agregado da cultura do algodão, monitorar a ocorrência dessa praga na área no início da infestação é de extrema importância para a tomada de decisão e uso de medidas de controle no momento correto.

Demais espécies do complexo

Em relação as demais espécies do complexo, a S. eridania destaca-se pelo aumento da sua importância em cultivos de soja e algodão, e isso é reforçado por meio de levantamentos realizados durante as últimas safras. Assim como a S. frugiperda, a S. eridania e as demais espécies desse complexo apresentam baixa suscetibilidade a proteína inseticida Cry1Ac. Em milho, essa praga não é frequentemente reportada, no entanto, em soja é capaz de causar desfolha e, em elevados níveis populacionais, causa injúria às vagens. No algodoeiro, a S. eridania alimenta-se de folhas e brácteas e, quando maiores, as lagartas podem atacar os botões florais e maçãs, ocasionando perfurações nestas estruturas. O seu monitoramento também é fundamental.

A S. cosmioides também é uma espécie importante nesse complexo e pode causar danos semelhantes às outras espécies citadas, principalmente devido a tamanho que essa lagarta pode atingir (lagartas podem ter acima de 5 cm de comprimento). Além destas espécies, S. albula também tem aumentado em importância nos últimos anos. Anteriormente reportada com frequência na cultura do amendoim na região sudeste do Brasil. Relatos de sua ocorrência e danos semelhantes às outras espécies do complexo têm sido frequentes nos últimos anos em cultivos de soja na região centro-oeste.

Complexo Plusiinae

As lagartas deste complexo são conhecidas como falsa-medideiras, devido movimento que fazem ao se deslocarem. Entre as espécies, destacam-se a Chrysodeixis includens, Trichoplusia ni e Rachiplusia nu (Figura 5). Embora ambas sejam importantes no sistema, C. includens é a espécie que causa maiores problemas por estar amplamente distribuída nas diferentes regiões produtoras. As lagartas desse complexo atacam as folhas de soja e algodão, e apresentam comportamento característico de não se alimentarem das nervuras da folha, o que confere um aspecto rendilhado que, a nível de campo, é uma importante característica para identificar a presença desse grupo na área. Períodos de veranico ou estiagem prolongada podem favorecer o ataque dessas espécies.

Espécies de lagartas, sendo Chrysodeixis includens, Trichoplusia ni e Rachiplusia nu
Figura 5. Lagartas de Chrysodeixis includens (a), Trichoplusia ni (b) e Rachiplusia nu (c)

Outra importante característica desse grupo é o hábito de se alimentar no interior da planta, no terço médio e inferior do dossel. Essa característica tem dificultado o controle da praga, principalmente as aplicações com inseticidas químicos associadas ao uso de baixo volume de calda. O problema se agrava em cultivares que possuem um alto índice de Área Foliar (IAF), em que o alcance do produto no terço médio/inferior da cultura é mais difícil.

Monitoramento da lagarta desfolhadora

O monitoramento de pragas é uma etapa importante para o Manejo Integrado de Pragas (MIP) pois, além de identificar a ocorrência e nível populacional das espécies-praga, possibilita a tomada de decisão da melhor estratégia de controle.

Na cultura da soja, o pano de batida tem sido o método mais utilizado devido à usabilidade, mas, a adoção de armadilhas com feromônio para indicar a chegada dos adultos na lavoura tem se tornado uma prática comum nos últimos anos. O monitoramento através da batida de pano recomenda a amostragem de 10 pontos em áreas de até 100 ha, entretanto, esse número pode variar de acordo com a região e tamanho do talhão.

A seguir uma tabela com as diferentes espécies e os respectivos níveis de dano.

Tabela demonstrando os níveis de dano de lagartas
Tabela 1. Níveis de dano para os principais grupos de lagartas de acordo com a fase de desenvolvimento da cultura.

Na cultura do milho, a principal espécie de lagarta é a S. frugiperda. O monitoramento dessa praga é visual e o nível de controle é atingido quando 20% das plantas atacadas apresentarem nota igual ou superior a 3 na escala de Davis. As outras espécies, não possuem nível de controle amplamente estabelecido para proceder o controle.

Na cultura do algodão, o monitoramento é visual, como citado na cultura da soja, e os níveis de controle são bem estabelecidos, conforme a tabela a seguir.

Tabela de níveis de controle de lagartas em cultivos de algodão
Tabela 2. Níveis de controle de lagartas para a cultura do algodão.

Métodos de controle da lagarta desfolhadora

Os métodos empregados para o controle de ambos os complexos, pode ser o controle químico, através do uso de diferentes inseticidas. Para o controle de lagartas desfolhadoras, existem vários produtos com modo de ação distintos que podem auxiliar no controle, como: piretroides, organofosforados, reguladores de crescimento e diamidas. É fundamental, sempre que possível, realizar a rotação de princípios ativos nas aplicações, para mitigar a evolução de resistência de populações aos princípios ativos. Outro ponto importante, no que se refere ao

controle químico, é a utilização de volume de calda adequado, principalmente no controle de pragas que ficam localizadas no terço médio/inferior da cultura.

Outro método, que vem sendo amplamente utilizado, é a pulverização de entomopatógenos para o controle, principalmente à base de vírus e bactérias. Essa tática de controle vem sendo amplamente adotada para auxiliar o Manejo da Resistência de Insetos (MRI).

A utilização de plantas geneticamente modificadas, também é uma ferramenta para auxiliar no manejo. Atualmente, soja, milho e algodão dispõem de cultivares Bt para controle ou supressão de algumas das espécies citadas. No entanto, principalmente na cultura do milho, os relatos de resistência de S. frugiperda às primeiras tecnologias lançadas, mostra que o uso dessa tática de forma exclusiva pode acarretar problemas, e até mesmo a perda da tecnologia.

Considerações finais

O atual sistema de sucessão, soja-milho-algodão proporcionou a ocorrência desses complexos, que se tornam mais importantes no cenário agrícola nacional. Diante disso, o monitoramento, respeitando os níveis de controle, é uma etapa essencial para detectar a ocorrência de pragas e direcionar tomadas de decisão assertivas. No que diz respeito ao controle de lagartas desfolhadoras, diversas táticas de controle estão à disposição do produtor e, se utilizadas em conjunto, possibilitam o cultivo sustentável dentro do sistema soja-milho-algodão.

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