O papel dos Insetos na Sociedade
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O Papel dos Insetos na Sociedade

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Texto escrito em parceria com o Núcleo de Estudos em Entolomogia da Universidade Federal de Lavras. Autores: Carolina S. Lima, Thamiris G. Bibiano, Mariana M. Souza, Ana P. A. Antunes, Maria Pineda, Brígida Souza, Rosangela C. Marucci Os insetos fazem parte do Filo […]

por Giovanna Vallin
12 de dezembro de 2022
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O papel dos Insetos na Sociedade
Inseto

Texto escrito em parceria com o Núcleo de Estudos em Entolomogia da Universidade Federal de Lavras. Autores: Carolina S. Lima, Thamiris G. Bibiano, Mariana M. Souza, Ana P. A. Antunes, Maria Pineda, Brígida Souza, Rosangela C. Marucci

Os insetos fazem parte do Filo dos artrópodes e são os únicos invertebrados que possuem asas. Mesmo apresentando formas variadas, a divisão do corpo é a mesma para todos: cabeça, tórax e abdome. De acordo com estudos envolvendo fósseis, estima-se que os insetos surgiram há cerca de 480 milhões de anos, mesma época em que surgiram as primeiras plantas terrestres. Também há estudos que indicam que os insetos voadores foram resultado de 80 milhões de anos de evolução. Estimam-se cerca de 30 milhões de espécies de insetos viventes, sendo que cerca de um milhão delas já são conhecidas pela ciência. Esses dados remetem a um porcentual próximo de 80% de todas as espécies conhecidas no planeta, as quais se dividem em cerca de 28 ordens, sendo a ordem dos besouros a mais numerosa.  

Historicamente, os insetos desenvolveram importantes papéis para a sociedade, no entanto, com o passar do tempo e apesar de serem considerados importantes, são tidos como menos “queridos” pelas pessoas, pois, a grande maioria os vê como figuras negativas. À medida que a população humana se urbanizou, os insetos deixaram de ser vistos e ficaram menos conhecidos. Essa falta de “conhecimento” sobre os insetos causou um preconceito de que insetos julgados “bonitos”, como as borboletas e joaninhas, são bem aceitos, e os menos “bonitos”, como as baratas e moscas, são tidos como nojentos e sem qualquer importância. 

De acordo com crenças antigas, pode-se observar o quão bem aceitos eram alguns insetos, por exemplo o louva-a-deus, que recebeu esse nome porque quando está em repouso se assemelha à uma pessoa orando, e a sua aparição indicava bom presságio. O louva-a-deus é um inseto muito bem visto na China e em sua homenagem há um estilo de movimentos dentro do Kung Fu. No Brasil, o louva-a-deus era conhecido entre os tupis como “emboici”, que significa mãe de cobra, isso porque foram encontrados vermes parasitas em seu abdome e os indígenas acreditavam que eram cobras filhotes. 

Da mesma forma, pode-se citar os escaravelhos, besouros pertencentes a família Scarabaeidae, popularmente conhecidos como rola-bosta. No Egito antigo, os escaravelhos eram figuras associadas ao deus Rá, pois o hábito de rolar bolas de esterco foi comparado à crença da época de que o deus Rá rolava o sol através do céu. Além disso, sua imagem era usada como amuleto nas mumificações e garantia ao morto passagem segura para o além. Isso porque os escaravelhos colocam seus ovos em esterco e também em outros escaravelhos mortos, sendo assim, o nascimento da prole de dentro de um besouro morto se tornou um símbolo de ressurreição. 

Imagem de escultura de besouro.
Besouro na História

Outra contribuição histórica que ainda hoje é lucrativa é a criação do bicho-da-seda, que é uma mariposa branca cujas lagartas secretam fios de seda. Sua origem foi descrita na China por volta do século IX a.C. e, devido aos milhares de anos de domesticação, as mariposas não conseguem voar. O uso da seda foi descoberto por Leiuze, esposa do imperador Huangdi, pois a mesma observou que o casulo possuía um fio que se esticava mais que o dobro de seu tamanho. Assim, em sua homenagem, Leiuze é popularmente conhecida como a “rainha da seda”. 

O etnoconhecimento refere-se ao conhecimento que é passado entre gerações e, nesse contexto, pode-se observar o quanto os insetos se tornaram apenas um símbolo nas últimas décadas. Muito presente em filmes, séries e tatuagens, a imagem dos insetos está associada a algo bonito, porém, o seu papel para a vida no nosso planeta, bem a diversidade de hábitos que têm, são desconhecidos pela maioria do público, não assumindo importância maior além da simbologia. 

Imagem da tatuagem de uma borboleta no antebraço de uma pessoa.
Tatuagem de Borboleta

A área da ciência que estuda os insetos é a Entomologia e o conhecimento desses organismos assume importantíssimo papel por auxiliarem na execução de pesquisas científicas em diversas áreas, como biologia, ecologia, fisiologia, genética, medicina, dentre outras. O uso científico de insetos também está associado à organização de coleções entomológicas e estudos de morfologia e taxonomia. Nesse sentido, as coleções de insetos depositadas em museus assumem relevante papel para o conhecimento da história evolutiva desse grupo de animais e inferências sobre a história evolutiva da própria humanidade. 

Do ponto de vista biológico e ecológico, um aspecto essencial refere-se à capacidade dos insetos de reciclar material orgânico na natureza. Insetos que possuem esse hábito são denominados detritívoros, necrófagos ou saprófagos, e estão no final da cadeia alimentar contribuindo com a decomposição de cadáveres e de plantas. Porém, embora esse processo seja iniciado pelos insetos, é necessária a ação de microrganismos para que a decomposição seja completa. Na agricultara, os produtores se beneficiam dessa prática fazendo uso de compostagem, processo que resulta no composto orgânico, húmus e nutrientes minerais utilizados como fertilizantes. 

Na genética, a contribuição dos insetos mais conhecida no Brasil é o melhoramento genético feito por transgenia. Um inseto transgênico possui o gene modificado de acordo com a finalidade desejada. Um exemplo é o mosquito transmissor do vírus da dengue que é produzido em laboratório. Nesse caso são criados apenas machos que não possuem a capacidade de gerar descendentes viáveis. Esses insetos são liberados na natureza para competir com os machos nativos por ocasião do cruzamento com as fêmeas e, esses cruzamentos inférteis resultarão na redução das suas populações. 

Já na medicina, destacam-se os insetos que afetam a saúde humana e animal, visto que diversas espécies são vetores de patógenos causadores de doenças infecciosas, como dengue, doença de chagas, leishmaniose e malária. Os insetos também podem ser empregados em terapias feitas com larvas, e até mesmo em estudos feitos para combater o câncer, como, por exemplo, o uso do veneno da vespa Polybia-MP1. Outra área da entomologia em que os insetos desenvolvem papel de importância é a ciência forense, que associa o comportamento de alguns insetos na condução de investigações criminais. 

Na agricultura, alguns insetos são considerados pragas e necessitam ser controlados. Para controla-los, pode-se fazer uso de seus inimigos naturais, o que é denominado controle biológico. Essa estratégia de controle de pragas é benéfica para o produtor, uma vez que dispensa ou reduz o uso de produtos químicos geralmente empregados nos cultivos. Também beneficia o consumidor, uma vez que não deixa resíduos químicos nos produtos a serem adquiridos e, da mesma forma, beneficia o ambiente por evitar a contaminação do solo, das águas e dos animais. Esses organismos benéficos incluem insetos predadores, parasitoides e os microrganismos entomopatogênicos, como fungos, bactérias e vírus. Um exemplo de controle com o uso de um agente biológico é empregado contra uma praga na fruticultura. Trata-se do uso do parasitoide Diaschamimorpha longicaudata, que liberado para controlar populações de moscas-das-frutas, insetos que geram o “bicho” encontrado se alimentando da polpa de muitos frutos. As fêmeas do parasitoide colocam os ovos no interior do corpo das larvas da mosca-das-frutas, que não sobrevivem e, assim, interrompem o ciclo da mosca.  

Imagem de moscas e larvas
Moscas e larvas

Na agricultura, há também os insetos que podem ser vetores de patógenos causadores de doenças em plantas e, por outro lado, existem aqueles que assumem enorme importância na polinização. Ainda que não sejam os únicos, os agentes polinizadores mais conhecidos são as abelhas. A polinização é a troca de gametas entre as flores, onde o inseto leva em seu corpo grãos de pólen que fecundarão as flores de outras plantas garantindo, assim, a formação do fruto. 

Pelo fato de serem animais comuns, estarem presentes em todos os ambientes e épocas do ano, os insetos são facilmente observados na natureza e em ambientes domésticos, despertando o interesse de crianças em diferentes idades, bem como de adolescentes e adultos em diversas faixas etárias. Na educação, a importância dos insetos é enorme, pois, podem ser objeto de estudo desde a educação infantil, etapa em que a criança tem seu primeiro contato com a experiência escolar, até a educação superior, ajustando-se o tema ao conteúdo de cada etapa do ensino. Por ser o grupo de seres vivos mais abundantes do planeta, tanto em número de espécies quanto de indivíduos, esses organismos possuem inúmeras características que os tornam uma excelente opção pedagógica, podendo-se abordar temas como, por exemplo, meio ambiente, cuidado parental e sociabilização. Contudo, os insetos são pouco explorados sob o ponto de vista educacional e um dos motivos para tal consiste na carência de interação entre Universidade e Sociedade, o que resulta na deficiência de transferência de conhecimentos. 

Como forma de investir no preenchimento dessas lacunas, o projeto de extensão institucional “Cidade dos Insetos”, coordenado pelo Departamento de Entomologia da UFLA, busca proporcionar à sociedade em geral, a experiência de conhecer diversos grupos de insetos, destacando o importante papel que esses organismos desempenham na natureza e suas relações com os humanos. Como exemplo, destacam-se as abelhas nativas e exóticas e seus produtos; insetos que habitam o solo, como formigas e cupins; aqueles habitantes de cavernas, bem como outros de hábito aquático; insetos comestíveis; o bicho-da-seda e a importância da sericicultura; insetos de importância médica e zootécnica; insetos de importância para a agricultura; aqueles que assumem importância no ambiente urbano, entre outros.  

O projeto “Cidade dos Insetos” atende a sociedade recebendo grupos de estudantes dos ensinos fundamental, básico e médio, agricultores e profissionais de diferentes áreas, em laboratórios, casas-de-vegetação, meliponário, e outros locais do Departamento de Entomologia da UFLA. Também atende à comunidade em geral por ocasião de eventos municipais, como o UFLA na Praça, bem como às solicitações por parte de escolas públicas e particulares da cidade. Nessas ocasiões, o material entomológico (insetos vivos e/ou conservados em coleções, exposição de fotografias, jogos interativos, etc) é levado para apresentação nos respectivos locais. O projeto também investe em workshops, cursos de capacitação visando à formação e aperfeiçoamento de profissionais da área educacional, além de palestras e seminários ministrados por convidados, de forma a ressaltar a importância dos insetos para os humanos e o ambiente.  

Para realização de todas essas atividades, o projeto conta com os estudantes dos Núcleos de Estudos do Departamento de Entomologia da UFLA [Núcleo de Estudos em Entomologia (NEENTO) e Núcleo de Estudos em Abelhas (NEBee)], bem como com estudantes dos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFLA (PPGEN/UFLA), estagiários e bolsista do projeto.  

Imagem de borboleta em recipiente de vidro e livro sobre borboletas ao fundo.
Estudo de Borboletas

É na EDUCAÇÃO onde tudo começa, e onde o incentivo e apoio devem ser constantes, pois, ela é a base para formação de profissionais capacitados e aptos a disseminar o conhecimento sobre os insetos. Isso demonstra o impacto e a responsabilidade que a EDUCAÇÃO desempenha a respeito desses saberes. 

Diante do que foi abordado, vê-se que os insetos, com sua rica diversidade, desempenham importantes papéis para a sociedade. Além disso, por serem numerosos possibilitam cada vez mais descobertas a respeito de seus hábitos e evolução. Com isso, deve-se estudá-los e cada vez mais informar a população sobre sua importância. 

Esperamos que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre o papel dos insetos na sociedade. Com esse conhecimento podemos compreender a importância de estudá-los e preservá-los para manter o equilíbrio dos ecossistemas. Na próxima edição vamos abordar os Insetos do Bem. 

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