A aplicação calendarizada como estratégia de combate às pragas na soja ainda é muito utilizada por produtores do mundo inteiro. À primeira vista, o método pode até parecer mais prático em relação aos outros, por oferecer ao produtor certa facilidade […]
A aplicação calendarizada como estratégia de combate às pragas na soja ainda é muito utilizada por produtores do mundo inteiro. À primeira vista, o método pode até parecer mais prático em relação aos outros, por oferecer ao produtor certa facilidade de planejamento de safra.
No entanto, a visão equivocada de que a “aplicação por calendário” é o método mais seguro provoca muito mais uma ilusão de ótica sobre vantagens, em vez de reais benefícios para a saúde, produtividade e rentabilidade de uma lavoura.
Uma das alternativas ao uso do calendário é a adoção do Manejo Integrado de Pragas – MIP. O método trabalha o monitoramento e a amostragem para indicar ao produtor a hora certa de aplicar defensivos na lavoura. De acordo com Samuel Roggia, pesquisador e líder da equipe de entomologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Soja, os produtores que aboliram o uso do calendário na tomada de decisão são aqueles que trabalham com foco em produtividade, de
olho no rendimento e na lucratividade.
Uma das diferenças entre a aplicação com base em calendário e a com base em amostragem é a redução de gasto com produto, de tempo e de mão de obra.
“Eles já perceberam que as operações precisam ser mais lucrativas. Por isso, têm mais facilidade de entender que a sustentabilidade das suas atividades agrícolas dependem daquelas vírgulas geradas por uma economia que pode parecer pequena, mas que no final de tudo faz grande diferença”, explica o pesquisador.
A adoção do calendário gera ainda muitas desvantagens, entre elas a falta de garantia de que a aplicação está sendo feita no melhor momento. Ela pode ser feita antes (o que ocorre comumente) ou pode ser tardia – depois do momento adequado. “Principalmente, se o produtor tem como critério apenas a experiência de safras anteriores, já que a cada ano a lavoura é diferente e as pragas também mudam”, esclarece Roggia, que também é Doutor em Entomologia.
Além disso, o MIP proporciona aos profissionais em campo a oportunidade de trabalhar com mais assertividade. Pesquisadores das diferentes regiões produtoras de soja do país e técnicos parceiros a Embrapa e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Emater, relatam que ao substituir o método calendarizado pelo MIP, com base em amostragem, é possível reduzir as aplicações
pela metade.
Por isso, ele conclui que pensar em aplicar no momento correto é o verdadeiro diferencial. “Às vezes, o agricultor tem dificuldade de aceitar que não vai perder em produtividade se aplicar menos produto. O grande ponto é aplicar no momento correto”, ressalta Samuel.
Tecnologia para aperfeiçoar o MIP
A tecnologia é uma grande aliada não só do MIP, mas de toda a gestão de uma propriedade. Ela atua na racionalidade do uso da mão de obra, do maquinário e proporciona muitas vantagens quando trabalhada com visão estratégica.
O pesquisador da Embrapa relata que quando o produtor tem o conhecimento de onde está ocorrendo maior intensidade de pragas, o lugar que está mais próximo do nível de controle ou onde esse nível já foi atingido, a gestão fica mais fácil.
Sem essa informação, talvez o agricultor priorize o controle na área que é mais produtiva. “Ele vai pensar: nessa área eu já tenho um alto nível de investimento, então eu vou começar o controle por aqui”. O problema é que, às vezes, nem é preciso controlar aquele local. Já usando o MIP e a amostragem, ele pode dizer “vamos atender primeiro onde o problema está mais sério”, explica. Outro exemplo, citado por Roggia, está ligado à tecnologia de aplicação.
Ele conta que se um produtor tiver mil hectares para trabalhar, provavelmente não irá priorizar os horários recomendados para realizar as aplicações.
Já com informações dos níveis de infestação das pragas, ele poderá planejar uma aplicação de melhor qualidade, nos melhores horários e apenas nas áreas em que a praga preocupa mais neste caso a regra também vale para o controle biológico. O agricultor ainda tem a opção de esperar, dar chance para que os inimigos naturais atuem ou que uma chuva reduza a pressão naquele local.
Acontece também de o produtor deixar de investir em um produto mais eficaz contra determinado problema, usar um mais barato e não tão eficaz, porque vai aplicar em toda a lavoura. “Se você tem o conhecimento de que aquela praga está agindo de forma localizada, pode realizar uma operação mais cirúrgica, investindo em um produto mais caro ou até mesmo no controle biológico – se a situação permitir”, finaliza.
Algumas vantagens do Manejo Integrado de Pragas quando feito de forma adequada
Proteção adequada da lavoura: aplica-se o produto certo e na hora certa
Conhecer a ameaça e saber com qual arma lutar: conhecer a praga e saber a ameaça que ela representa é fundamental. Se o produtor não faz monitoramento, nem sempre tem condição de identificar a praga que deve combater. Para cada praga existe um produto mais adequado e nem sempre o que funciona com uma, funciona para outra;
Redução de custos: gerado pela economia de combustível, horas trabalhadas e com o próprio produto.Uma economia que compensa o investimento com a técnica de amostragem;
Preservação do meio-ambiente: se o produtor está aplicando menos produto, as chances de contaminação da natureza são menores. Menos produto vai para a água, é carregado para outras culturas próximas, ou fica suscetível à deriva;
Evitar o desenvolvimento de pragas resistentes: usando menos produto (apenas o necessário), evita-se o desenvolvimento de pragas resistentes. É um benefício que volta para o próprio agricultor e para todo o sistema produtivo.
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