Texto escrito em parceria com o Núcleo de Estudos em Entolomogia da Universidade Federal de Lavras. Autores: Ana Luisa Rodrigues Silva, Thamiris Gabrielle Bibiano, Ana Paula Ananias Antunes, Pedro Henrique Mendes Carvalho, Ronald Zanetti, Rosangela Cristina Marucci. As formigas são insetos pertencentes à […]
As formigas são insetos pertencentes à ordem Hymenoptera, família Formicidae e apresentam ampla distribuição em todo o mundo, com 503 gêneros e mais de 27 mil espécies e subespécies descritas. Apenas no Brasil são observados 112 gêneros e 1505 espécies. Considerando essa grande diversidade, as formigas desempenham as mais variadas funções ecológicas no meio ambiente e apresentam diferentes hábitos alimentares, podendo ser predadoras, fungívoras, herbívoras ou onívoras. As espécies onívoras são aquelas que se alimentam tanto de materiais de origem animal quanto vegetal, e é nessa categoria que se encaixa a maior parte das formigas.
As formigas cortadeiras se encontram entre as espécies herbívoras, embora elas também se alimentem de fungos. Essas formigas cortam e transportam folhas e outras partes vegetais preferencialmente durante a noite, transportando-as para o interior dos ninhos para cultivar um fungo que serve de alimento para as larvas e adultos. Por isso, as formigas cortadeiras podem trazer prejuízos econômicos a diferentes culturas, causando danos principalmente à suas fases iniciais, pois paralisam o crescimento ou matam as plantas. Além disso, causam danos indiretos ao diminuir a resistência das plantas atacadas a outras pragas e/ou doenças.
As formigas cortadeiras são representadas pelos gêneros Atta (saúvas), Acromyrmex e Amoimyrmex (quenquéns). Elas apresentam ampla distribuição geográfica no Brasil e são consideradas as principais pragas de cultivos agrícolas e florestais, além de pastagens e reflorestamentos.
As saúvas são caracterizadas por três pares de espinhos na parte superior do tórax e geralmente são maiores (dependendo da casta), com até 15mm de comprimento. Os sauveiros são formados por dezenas a centenas de câmaras ou panelas subterrâneas conectadas, atingindo grandes profundidades, e apresentam montes de terra solta maiores que os das quenquéns.
As quenquéns apresentam de quatro a cinco pares de espinhos no tórax e são geralmente menores. Seus formigueiros são mais superficiais, com ou sem a presença de terra solta, e geralmente formados por apenas uma câmara, o que facilita o seu controle, mas pode dificultar sua localização. A localização se torna ainda mais difícil, pois é comum que os quenquenzeiros sejam cobertos pela serapilheira. As quenquéns atacam principalmente mudas, brotações de cepas e árvores novas.
Para minimizar os danos, os produtores florestais empregam o manejo integrado de formigas cortadeiras, onde o monitoramento dos formigueiros deve ser realizado constantemente. No caso de cultivos florestais, a frequência de monitoramento pode ser reduzida apenas após o primeiro ano, quando as árvores já estão maiores e mais lenhosas e apresentam uma maior tolerância ao ataque das formigas, tornando possível uma convivência.
O monitoramento é realizado por pessoas experientes, que reconhecem as formigas, os ninhos, a atividade de forrageamento e os danos causados por cada espécie. Também é possível monitorar por meio de drones e imagens de satélite. Desse modo, a partir do conhecimento da distribuição dos ninhos nos talhões, é possível estimar com maior precisão a densidade populacional das cortadeiras, ou seja, o número e o tamanho dos formigueiros por talhão. É sempre importante dividir a área em talhões, de modo a garantir um controle mais localizado, apenas naqueles mais afetados, e reduzir custos com o produto e mão-de-obra.
O controle por meio do uso de produtos químicos é realizado quando a densidade populacional atinge o nível de controle determinado para a região (tamanho populacional dos formigueiros um pouco antes que ocorram danos econômicos).
Durante o monitoramento, o avaliador deve amostrar cada talhão, localizando e avaliando número e tamanho dos formigueiros, número dos olheiros e de plantas atacadas por parcela ou unidade amostral. Os dados obtidos são então computados e processados em softwares específicos, possibilitando a tomada de decisão sobre o controle por talhão.
No caso de jardins municipais ou hortas domésticas, não há necessidade de monitoramento, apenas a detecção e controle dos ninhos existentes, antes que as formigas causem danos muito significativos, dos quais as plantas demorariam ou não conseguiriam se recuperar.
O controle pode ser feito antes do plantio, para prevenir danos ou mortalidade das mudas ou plântulas, e após o plantio e durante a condução da cultura, para evitar danos econômicos. Para isso, deve-se selecionar as táticas de controle mais apropriadas para a situação, considerando a espécie de formiga, espécie vegetal cultivada, o recurso financeiro disponível, características do terreno, condições climáticas, entre vários outros fatores. As principais táticas de controle que podem ser aplicadas contra essas pragas são descritas a seguir:
O controle químico consiste na aplicação de produtos químicos diretamente ou indiretamente nos formigueiros através de formulações granuladas, pós, líquidas, líquidos pulverizáveis nebulizáveis. A técnica mais empregada no campo são as iscas granuladas tóxicas.
As iscas consistem em de um ingrediente ativo inseticida (principalmente sulfluramida e fipronil) misturado com polpa cítrica (bagaço de laranja), como atrativo. Apresenta ação mais lenta, para que as formigas consigam coletar as iscas e carregá-las, contaminando as formigas e o fungo de todo o formigueiro. Devem ser aplicadas próximo aos olheiros e na borda das trilhas de transporte de folhas, normalmente em dias secos. Algumas iscas disponíveis no mercado são resistentes a umidade e podem ser aplicadas em períodos chuvosos.
No caso de culturas anuais, como soja e milho, os períodos logo após a colheita e entre dessecação e semeadura são os mais adequados para o controle intensivo dessas formigas, devido a maior facilidade de localização dos ninhos e porque, devido à escassez de alimento, as formigas estarão abrangendo maiores áreas. É interessante distribuir as iscas em dias com intensa atividade externa das formigas.
As iscas apresentam toxicidade relativamente baixa, causando menores danos ambientais e são mais seguras ao aplicador do que os demais métodos mencionados. Entretanto, elas podem ser tóxicas a animais domésticos ou silvestres, se ingeridas. Uma maneira de evitar a contaminação desses animais é através do uso de porta-iscas, ou restringindo o acesso de animais domésticos durante a aplicação. Porta-iscas podem ser distribuídas de forma sistemática, reduzindo a mão-de-obra para localização dos formigueiros e perdas pela chuva.
A termonebulização é a segunda prática mais eficiente de controle e implica na atomização ou quebra do líquido inseticida em gotículas, formando uma névoa por meio do calor. O formicida é veiculado em óleo diesel ou mineral, sendo introduzido nos olheiros por equipamentos chamados termonebulizadores. É eficiente no combate de grandes ninhos onde o uso de iscas é tecnicamente inadequado, como em períodos de chuva, quando há prazo reduzido para o controle ou quando não é possível a medição do ninho. Sua ação é imediata e apresenta alta eficiência.
Já os formicidas em pó apresentam o talco como veículo. A aplicação é feita através de polvilhadeiras, mas é muito difícil que o produto atinja todas as câmaras em ninhos muito profundos, por isso é um método eficiente apenas contra sauveiros jovens ou quenquenzeiros. O solo precisa estar seco.
A pulverização de inseticidas nas áreas cultivadas é outra forma de aplicação bastante utilizada em cultivos como milho, soja, algodão e eucaliptais. O produto é eficiente na paralisação da atividade de corte das formigas e no controle dos ninhos. É importante salientar que a pulverização sistemática da área deve ser feita com cuidado para evitar a contaminação de organismos não-alvo, como abelhas polinizadoras e inimigos naturais.
Devem ser utilizados apenas produtos registrados no Ministério da Agricultura para formigas cortadeiras. O rótulo sempre deve ser consultado para saber quais as instruções de aplicação e quais EPI’s devem ser utilizados. A possibilidade de intoxicação dos aplicadores pelos métodos de termonebulização e formicidas em pó é muito maior do que através do uso de iscas.
O controle biológico é desempenhado pelos inimigos naturais das formigas cortadeiras, sejam predadores, parasitoides ou parasitas causadores de doenças. A resistência ambiental, que abrange os inimigos naturais e condições climáticas adversas, é responsável pela morte de 99,95% das rainhas, antes mesmos que elas deem início a formação de novos formigueiros.
Dentre os predadores naturais das formigas cortadeiras se encontram aves, sapos, lagartos e tamanduás, mas eles são desfavorecidos pelo sistema de monocultura desenvolvido na maior parte do país, onde há supressão de toda a vegetação próxima à área cultivada, que servia de abrigo para esses e outros inimigos naturais. Muitos também são prejudicados devido a intensa utilização de produtos tóxicos para o controle de pragas. Dessa maneira, há um desequilíbrio ambiental e as formigas não encontram barreiras contra a sua multiplicação, atingindo populações capazes de causar danos consideráveis.
Vários estudos têm tratado do potencial de controle de diferentes inimigos naturais sobre essas formigas, como parasitoides da família Phoridae e fungos entomopatogênicos. Esses estudos buscam métodos para produção e liberação desses organismos no campo, mas ainda não estão sendo aplicados no Brasil. Portanto, deve-se sempre buscar preservar os fatores de mortalidade natural.
O controle cultural é realizado por meio da aplicação de boas práticas agrícolas. Consiste no manejo do ambiente de cultivo, favorecendo o desenvolvimento da planta principalmente no momento em que está mais suscetível.
A aração do solo antes da implantação da cultura é muito eficiente na extinção de sauveiros jovens, de até 4 meses, quando a rainha se encontra a poucos centímetros da superfície. É ainda mais eficiente contra quenquenzeiros, que são bastante superficiais. Uma vez que a rainha é morta, o formigueiro cessa seu desenvolvimento em poucos meses.
Em florestas cultivadas, o sucesso do manejo integrado começa com uma eficiente extinção das colônias. Manter as mudas suspensas e fazer inspeções constantes são as estratégias mais adequadas para evitar danos aos viveiros.
Outro método, bem antigo, mas bastante eficiente, consiste na proteção das árvores para evitar a subida das formigas e o acesso às folhas. Podem ser encaixados no caule cones de proteção resistentes com a parte mais larga para baixo ou amarradas largas tiras de plástico, que são pincelados com graxa ou vaselina. Esses métodos são inviáveis em grandes plantações, mas podem ser úteis para pequenas.
A utilização de culturas armadilhas, que apresentam efeitos tóxicos ou repelem as formigas cortadeiras, também é um método de controle cultural. Culturas como gergelim, mamona e batata-doce são conhecidas por serem atrativas a essas pragas e podem ser plantadas na borda da cultura principal, também servindo como alimento alternativo. São tóxicas para as formigas e seu fungo simbionte. Estudos indicam que o gergelim apresenta substâncias que prejudicam o desenvolvimento do fungo cultivado pelas formigas, podendo afetar o formigueiro como um todo.
É sempre importante lembrar que a integração de diferentes táticas é muito recomendada, evitando a dependência de apenas um método de controle e criando um maior número de barreiras contra o aumento populacional dessas pragas. Apesar do controle químico ser o mais amplamente utilizado, outras táticas de controle devem ser consideradas, devido ao risco ao meio ambiente e à saúde animal e humana causado pelos químicos. Por isso esses produtos devem ser aplicados de maneira correta e com o equipamento de proteção adequado.
Esperamos que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre as formigas cortadeiras e seu controle. Com esse conhecimento podemos identificar as saúvas e quenquéns, monitorar suas populações em campo, selecionar a melhor estratégia de controle e agir enquanto há tempo de conter altas infestações. Na próxima edição vamos abordar o papel dos insetos na sociedade.
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