O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que na safra 2015/2016 a cultura ocupou uma área de 33,17 milhões de hectares, o […]
O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que na safra 2015/2016 a cultura ocupou uma área de 33,17 milhões de hectares, o que totalizou uma produção de 95,63 milhões de toneladas.
Esses números demonstram a grandiosidade do produto para a agricultura brasileira e confirmam o potencial da soja na alimentação. Por isso, pesquisadores investem em pesquisas de práticas de manejo integrado que proporcionem o desenvolvimento de cultivares mais adequados ao consumo humano e elevem a qualidade do produto.
O manejo biológico é uma das práticas defendidas, já que a cultura da soja está sujeita ao ataque de insetos desde a germinação até à colheita. Sendo assim, é importante que os agricultores que cultivam a soja realizem o manejo integrado da produção, que envolve as práticas biológica, química, cultural e hormonal. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), atualmente, no cultivo da soja no Brasil, os agentes biológicos mais empregados no combate a pragas são: Bacillus thuringiensis, Trichogramma pretiosum, Beauveria bassiana, Trichoderma spp e Bacillus subtilis.
O presidente da ABCBio, Pedro Faria Jr., explica que tais agentes são propícios para o combate de lagartas em geral, mosca branca, diversas doenças de solo e nematoides de galha. “Em geral, a forma de aplicação varia desde a pulverização foliar, nos casos do Bacillus thuringiensis e da Beauveria bassiana; a liberação de pupas ou adultos, no caso do Trichogramma pretiosum; tratamento de sementes, indicado para do Trichoderma spp; e por meio da inoculação de sulco de plantio, para o uso do Bacillus subtilis”.
O engenheiro agrônomo do Instituto Emater (Paraná) e mestre em entomologia, Fernando Teixeira de Oliveira, lembra que o manejo biológico é uma das práticas usadas dentro do manejo integrado de pragas nas culturas de soja. De acordo com Oliveira, são duas as principais técnicas usadas nesse tipo de manejo que visa o controle biológico da cultura. “O produto mais conhecido pelos agricultores é o Baculovírus usado para o combate da lagarta Helicoverpa Armigera, que foi descoberto na década de 80 e até hoje é um princípio de controle biológico muito difundido nas lavouras.
O produtor da soja pode comprar o Baculovírus – organismo vivo para aplicar na lavoura e controlar as pragas – no mercado, que é vendido pelas biofábricas, ou produzir por conta própria. Há ainda a técnica de controle via parasitoides, que são pequenas vespas capazes de parasitar os ovos de lagartas e/ou percevejos. Essa técnica de manejo biológico é mais moderna e atua no combate às pragas ainda na fase do ovo”, salienta.
Fernando de Oliveira defende o uso no manejo biológico da soja, já que o químico gera grande desequilíbrio ambiental, além da contaminação do meio ambiente e dos próprios agricultores que trabalham no manejo, mas lembra que, dependendo do cenário de pragas existentes na cultura, o produtor da soja pode precisar de utilizar outras técnicas para combatê-las.
Os produtores do Paraná – segundo maior estado produtor de soja no Brasil, que perde a liderança para o Mato Grosso – vêm sendo monitorados nas últimas cinco safras por uma parceria entre a Embrapa Soja e o Instituto Emater (Paraná), e os resultados revelam uma economia superior a 55% no uso de inseticidas nas áreas de cultura da soja que adotam o Manejo Integrado de Pragas (MIP).
De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, Daniel Ricardo Sosa Gomez, o MIP é uma tecnologia que busca manter o ecossistema da soja o mais próximo possível do equilíbrio. “Esse manejo colabora com a sustentabilidade da lavoura e a preservação do meio ambiente no longo prazo, evitando o uso abusivo de inseticidas. Fazemos o acompanhamento em Unidades de Referência (UR), instaladas em 163 propriedades agrícolas do Paraná, para avaliar o impacto do uso das técnicas de manejo biológico integral”, explica Gomez.
O número médio de aplicações de inseticidas nas propriedades paranaenses que cultivam soja e utilizaram o MIP na safra 2015/2016 foi de 2,1 aplicações, enquanto a média estadual foi de 4,5 entre os produtores que não utilizam a tecnologia. “É um número bastante expressivo, pois mostra uma redução na aplicação de inseticidas superior a 55% nas áreas que adotam o MIP”, destaca o pesquisador da Embrapa.
Ainda de acordo com Daniel Gomez, o manejo integrado das pragas deve se basear na desfolha e na população da praga. “É importante que os agricultores não subestimem o momento da desfolha, quando as pragas estão mais visíveis, e avaliem com precisão o tamanho da população de cada uma delas e a capacidade que elas terão de provocar estragos. Vale lembrar que a desfolha não pode ser superior a 30%, quando a cultura ainda se encontra na fase vegetativa – antes da floração -, nem inferior a 15% na fase em que aparecem as primeiras flores”, ressalta.
Gomez alerta que o agricultor deve monitorar a plantação semanalmente e ao identificar as pragas, aplicar as tecnologias no momento exato, considerando a densidade da lagarta ou percevejo, ou seja, a quantidade de 20 lagartas maiores de 1,5 centímetro por metro da plantação ou dois percevejos maiores de 3 milímetros por metro de linear da cultura. “Muitos agricultores aplicam os produtos antecipadamente, repetidamente ou mesmo aumentam a dose para o combate às pragas, e isso não vai resolver o problema. As consequências da aplicação equivocada seja no momento, no número de vezes ou na dose erradas pode fazer com que a população da praga ressurja, até mesmo em maior intensidade, principalmente quando se usa produtos de amplo espectro”.
Na safra 2015/16 constatou-se uma mudança de cenário na ocorrência das principais pragas da soja, especialmente lagartas. A ocorrência de lagarta-da-soja (A. gemmatalis) voltou a ser maior que da lagarta-falsa-medideira (C. includens) que predominou nas duas safras anteriores. Lagartas dos grupos Spodoptera e Heliothinae mantiveram baixo percentual de ocorrência, semelhante às últimas safras.
Ainda de acordo com os resultados do manejo integrado de pragas da soja na safra 2015/16 no Paraná, entre os percevejos, o E. heros continuou predominando nas URs, reduzindo sua participação em relação à safra passada de 82,2 para 63,9% e abrindo espaço para a espécie N. viridula que duplicou sua participação no complexo de percevejos.
Custo reduzido
O custo operacional do controle de pragas também é reduzido quando o agricultor opta pelo manejo biológico e dispensa ou ameniza a utilização de agrotóxicos. Para transformar os custos em sacos de soja por hectare, foi considerado o preço médio praticado no Paraná na safra 2015/16, de R$ 67,00 por saco de 60 quilogramas.
Dados da Embrapa Soja mostram que quando foram usadas estratégias de MIP nas lavouras de soja no Paraná, o custo médio de controle de pragas correspondeu a dois sacos por hectare, representando 3,6% da produtividade média. Este custo nas quatro macrorregiões analisadas no estado ficou entre 2,5 e 4,8% da produtividade média da soja. Além disso, a produtividade foi superior à média do Paraná para a presente safra, segundo dados do IBGE.
O engenheiro agrônomo da Emater, Fernando de Oliveira, conta que nas últimas três safras, a produtividade aumentou entre 3 e 4% nas Unidades de Referência com aplicação do MIP. Já os custos de controle de pragas onde constatou-se o elevado número de aplicações de inseticidas, em média 3,8, levou a um custo médio entre as macrorregiões de quatro sacos de soja por hectare, o que equivale a 7,8% da produtividade média obtida nestas regiões, que foi de 58,6 sacos por hectare. “Considerando o custo total para o agricultor, há uma redução de 4,2% para os que usam o Manejo Integrado de Pragas”, confirma Gomez.
Outro indicador de sucesso da tecnologia foi o aumento do tempo necessário até a primeira intervenção com inseticidas para o controle de pragas. Enquanto a média para a primeira aplicação de inseticidas nas Unidades de Referência foi de 66,8 dias, nas áreas comerciais a média foi de 36 dias. O engenheiro agrônomo da Emater, Fernando de Oliveira destacou o atraso de 30 dias para a primeira intervenção química. “As práticas do MIP também contribuem para a elevação do rendimento econômico de 5 sacas de soja a mais por hectare. Não há aumento da produção, mas sim da rentabilidade e da renda do produtor”.
Dessa forma, o engenheiro agrônomo da Emater e mestre em entomologia, Fernando de Oliveira, dá algumas dicas para o produtor de soja combater as pragas na lavoura, com foco no manejo biológico. “O produtor deve se preocupar em ter uma visão ampla do que acontece na própria lavoura e escolher a melhor forma do manejo biológico de acordo com o cenário encontrado.
Ele pode ser natural ou induzido através de inimigos naturais que o sojicultor vai liberar ou aplicar na área da cultura. O Baculovírus, que age contra a lagarta da soja, é aplicado via equipamento de pulverização. Já a técnica de insetos em dormência ocorre por meio da liberação de cartelas ou cápsulas na lavoura, assim eles já nascem no meio da plantação e buscam as presas – inimigos naturais – para se alimentar e sobreviver”.
Fernando de Oliveira destaca ainda que o produtor deve observar a química dos produtos seletivos, optando pelos que não matam os inimigos naturais úteis para o combate às pragas. “É preciso certificar de que os produtos seletivos vão atingir apenas as pragas, ou seja, o alvo do prejuízo da lavoura”.
Soja orgânica
É importante lembrar que o consumo de produtos orgânicos também vem crescendo consideravelmente no Brasil. Segundo a Organics Brasil, o mercado deve crescer entre 30% e 35% este ano, com um faturamento acima dos R$ 3 bilhões, frente aos R$ 2,5 bilhões no país movimentados no ano passado. A soja é um dos destaques desses produtos que vêm conquistando os consumidores brasileiros.
Livre de produtos químicos, como herbicidas, fungicidas e inseticidas, o cultivo da soja orgânica, direcionada principalmente ao consumo humano é uma ótima alternativa para agricultura familiar, considerando que o custo de produção também é menor que o convencional.
E para os pequenos que pretendem começar a cultivar a soja orgânica, nada melhor que se espelhar nos grandes sojicultores. Clodoveu Franciosi é considerado o maior produtor de soja orgânica do Brasil e um dos maiores do mundo. Sua produção abastece os exigentes mercados da Europa, Japão e Estados Unidos. Ele cultivou a soja orgânica durante 14 anos e passou 12 sem usar uma única gota de defensivo químico. São seis mil hectares em três áreas produtivas nos municípios de Sapezal, Brasnorte e Tangará da Serra, localizados no Mato Grosso.
“Durante todo o tempo em que produzimos a soja orgânica, evitamos ao máximo produtos de choque que façam um desequilíbrio no sistema de produção. Herdamos várias práticas dos anos que cultivamos a soja orgânica e continuo aplicando tudo que aprendemos naquele período. Todo nosso controle de pragas é feito principalmente através do manejo biológico. Caso essas práticas não deem o resultado esperado, o que não é comum, passamos para o controle fisiológico com produtos químicos, e esporadicamente, se estes não funcionarem pensamos em utilizar produtos com efeito de choque. É importante que o agricultor retarde ao máximo o uso dos produtos químicos tóxicos”, explica Franciosi.
De acordo com Clodoveu Franciosi, o custo da produção cai significativamente quando o agricultor opta pelo manejo biológico da soja. “Sempre será mais barato, até porque o próprio sojicultor pode produzir os herbicidas, fungicidas e inseticidas, que serão usados no combate às pragas, como é o nosso caso. Realizamos a coleta de fungo selvagem e aplicamos no campo.
Capturamos microorganismos – fungos e bactérias – de ecossistema instável, através de substrato, e aplicamos na soja que é um grão homogêneo e por isso costuma perder facilmente o equilíbrio”, revela. Devido ao clima quente e úmido da região, os municípios mato-grossenses possuem alta incidência de fungos.
Franciosi também recomenda o uso da tecnologia Bacillus thuringiensis (Bt). Ela é considerada uma ferramenta para agricultura sustentável, comprometida com a preservação dos recursos naturais e por isso é um método alternativo que deve ser usado para o controle integrado, seletivo, econômico e adaptado de pragas. É uma técnica adicional, como bem explicou Franciosi, que usa plantas geneticamente modificadas, ou seja, com genes Bt isolados a partir da bactéria Bacillus thuringiensis que codificam as proteínas letais a determinados insetos.
A seletividade diante dos inimigos naturais é um dos principais benefícios da Tecnologia Bt. No entanto, o sojicultor destaca que como qualquer outra tecnologia, a “Bt” não será eficiente no combate às pragas se for usada de forma isolada. Ela deve ser adotada pelos agricultores integrada a outras práticas de controle efetivo.
A proteína Cry1Ac, comumente encontrada nos solos, apresenta forte proteção contra as principais lagartas encontradas nas lavouras de soja. Quando as lagartas, principal alvo dessa tecnologia, se alimentam das plantas de soja, por meio da raspagem das folhas, elas ingerem a proteína Cry1Ac que conecta a receptores específicos no tubo digestivo do inseto, provoca a quebra da membrana do intestino médio dessas pragas e a consequente morte.
A tecnologia BT garante a proteção contra as principais lagartas da cultura da soja, durante todo o ciclo produtivo: lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens / Rachiplusia nu), broca das axilas (Crocidosema aporema), lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens), lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e complexo helicoverpa (Helicoverpa spp).
Além da tecnologia BT, Franciosi também faz uso do Baculovírus nas propriedades e alerta que o produtor também deve se preocupar em usar técnicas de manejo biológico para segurança própria e dos funcionários que trabalham no manejo. “É importante evitar ao máximo produtos químicos tóxicos que desequilibrem o sistema de produção”.
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Por Marina Rigueira
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