Convidamos o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Solos, Pedro Luiz de Freitas, para responder às principais dúvidas sobre agricultura regenerativa. Confira!
Você já ouviu falar em agricultura regenerativa? O termo criado pelo americano Robert Rodale, é novo e vem sendo adotado cada vez mais em todo mundo. Apesar disso, a técnica já é uma prática bem conhecida dos pesquisadores e agricultores brasileiros.
Na chamada agricultura regenerativa, o princípio básico é a proteção e não o esgotamento de recursos naturais (solo e água), criando um ambiente sustentável para o cultivo de alimentos. O objetivo é produzir enquanto se recupera a terra e preserva o meio ambiente.
Grandes empresas, inclusive, têm escolhido esse tipo de agricultura como modelo de negócios. Entre os principais motivos, está a preferência crescente dos consumidores por uma agricultura sustentável.
Para entender mais sobre a agricultura regenerativa, convidamos o engenheiro agrônomo, doutor em ciência do solo e pesquisador da Embrapa Solos, Pedro Luiz de Freitas para responder algumas dúvidas sobre o assunto. Continue lendo para conferir!
“A agricultura regenerativa compreende práticas e técnicas de manejo do solo que visam recuperar as terras com algum estágio de degradação. É um termo novo, mas na prática é um tipo de manejo que nós, no Brasil, já adotamos há muito tempo. É o que chamamos de sistema plantio direto.
Nós, brasileiros, que desenvolvemos. Esse sistema, inclusive, foi adotado pela FAO com o nome de agricultura conservacionista. É a mesma visão. Para uma agricultura sustentável precisamos usar os três pilares que a agricultura conservacionista prega: evitar toda forma de preparo do solo, manter o solo coberto o ano todo e fazer a rotação plurianual de culturas”, esclarece Pedro Luiz de Freitas.
“É o tipo de agricultura que melhora a dinâmica de matéria orgânica do solo, sequestra carbono, aumenta a infiltração de água no solo favorecendo o regime hídrico e evitando a erosão” – Pedro Freitas, pesquisador Embrapa.
Enquanto o mundo está falando sobre o termo, o Brasil, mais uma vez, já estava na dianteira nesse tipo de agricultura sustentável. Nós temos um papel muito importante para o agronegócio mundial, afinal, exportamos conhecimento e tecnologia.
Pedro deu o seu ponto de vista sobre isso para a Syngenta Digital: ”nós somos realmente um modelo para o mundo tropical. Tanto que a FAO adotou os princípios básicos do Sistema Plantio Direto como sendo a agricultura conservacionista e espalhou para o mundo inteiro, principalmente para a África.
Os benefícios da adoção desse sistema são bem conhecidos especialmente pela capacidade em sequestrar carbono da atmosfera e de aumento do teor de matéria orgânica no solo. Se estou com raízes crescendo, eu estou sequestrando carbono.
A evolução dessa agricultura é a integração-lavoura-pecuária- floresta, são os sistemas agroflorestais, é o sistema plantio direto para hortaliças – uma prática que está espalhada no Brasil inteiro”, completa Pedro.
“Estima-se que o Brasil tenha 22 milhões de hectares com o sistema plantio direto, segundo a Federação Brasileira de Plantio Direto. E até 2030, esse número pode passar de 50 milhões. Mas quando você analisa mais profundamente, as coisas complicam.
Esse número tende a cair dez, quinze por cento. Muitos agricultores não adotam os três princípios básicos. Ou ele prepara o solo, ou ele não coloca uma cobertura ou não faz rotação de culturas. Ou seja, ele declara que faz o plantio direto, mas na realidade não faz. O desafio é grande. É conscientizar os produtores de que é preciso fazer bem feito. Muitos agricultores pensam só a curto prazo e se esquecem dos problemas que terão lá na frente.
Quando ele vê o preço alto (commodity), ele deixa de fazer rotação. Não quer perder rentabilidade. E aí, entre uma lavoura e outra, deixa a área com um vazio, uma maior pressão de ervas daninhas, de pragas, de doenças. Com o tempo vem as consequências – compactação, erosão, ervas daninhas resistentes, diminuição da produtividade. Isso tudo exige maior quantidade de corretivos e fertilizantes.
É importante ressaltar que quando 1 tonelada de solo é erodida, se perde insumos (adubos, sementes, plantas), mão de obra, matéria orgânica, CO2 para a atmosfera, prejuízos com inundações e com secas e falta de água. O custo disso para os agricultores e para a sociedade brasileira é de 15.7 bilhões de dólares por ano”, explica o pesquisador da Embrapa.
No momento em que o mundo se preocupa com as mudanças globais, o sequestro de carbono da atmosfera para o solo é uma contribuição muito importante vinda da agricultura. A Syngenta Digital perguntou a Pedro Luiz de Freitas se ele concorda com isso.
“A adoção de sistemas como plantio direto (agricultura conservacionista ou regenerativa) é uma contribuição definitiva para a agricultura e para toda a sociedade. Proporciona maior recarga dos aquíferos, melhor qualidade do ar, a prevenção de enchentes e secas, menos desmatamento, e, por fim, a mitigação do efeito estufa pelo sequestro de carbono no solo e na palhada.
Em um trabalho publicado na revista Soil & Tillage Research em 2006, elaborado por mim e um grupo de pesquisadores da Embrapa, os cálculos mostram que, na média, em lavouras de grãos cultivados sob sistema plantio direto registra-se, na região dos Cerrados, um acúmulo de carbono no solo da ordem de 350 kg/ha/ano, sequestrado da atmosfera, e que pode atingir 480 kg/ha/ano na região sul do Brasil, numa profundidade de 20 cm.
Nas áreas sob manejo convencional, ao contrário, observa-se a emissão de carbono para a atmosfera. Considerando a área total sob Sistema Plantio Direto (22,5 Mi ha), tem-se uma estimativa de retirada de CO2 da atmosfera da ordem de 29 milhões a 40 milhões de t/ano.
Os números são aparentemente ínfimos se comparados com o total de emissões anuais do planeta, da ordem de 29 bilhões de toneladas de CO2.
Contudo, considerando o potencial de crescimento da agricultura brasileira, para os próximos anos, temos tudo para além de sermos a agricultura mais competitiva do mundo, sermos também a de maior sustentabilidade ambiental”, respondeu o engenheiro agrônomo.
“A agricultura digital busca premissas básicas e importantes que precisam ser levadas em conta na busca por práticas e técnicas sustentáveis de manejo do solo e da água, por exemplo. Primeiro porque a tecnologia te oferece a informação detalhada e confiável sobre que tipo de ambiente você está trabalhando.
Com uma visão geral da área – solo, clima, relevo e vegetação – o produtor pode reconhecer e mapear as zonas de manejo e estabelecer quais práticas e técnicas serão utilizadas. A informação na palma da mão, facilita a tomada de decisão e permite ao produtor rural realizar uma agricultura regenerativa, usando sempre os princípios do Sistema Plantio Direto”, conclui Pedro.
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