A expressão “o agro é inquieto, o agro é dinâmico” sempre me trouxe a possibilidade de muitos questionamentos e de várias certezas. Enquanto estudante, achava o máximo a semana do feriado de Carnaval. Poder ficar em casa, descansar, colocar a […]
A expressão “o agro é inquieto, o agro é dinâmico” sempre me trouxe a possibilidade de muitos questionamentos e de várias certezas.
Enquanto estudante, achava o máximo a semana do feriado de Carnaval. Poder ficar em casa, descansar, colocar a leitura em dia era muito sedutor.
Porém, quando comecei a trabalhar no agro, e aí já se vão 24 anos, passei a perceber que, enquanto uma nação inteira parava para festejar, existia sempre outro setor, junto com o turismo, que estava a mil por hora. E esse setor era o agro.
Passei a ver também que, muitas vezes, as férias do agro se resumiam a poucos dias no ano, pois toda hora era hora de alguma atividade importante dentro e fora da porteira.
Trazendo esse contexto para os momentos atuais, nos quais somos impactados pelo coronavírus e em que muitas nações pararam, eu refleti ainda mais sobre essa expressão.
Certamente, a saúde é o setor que está na linha de frente da demanda atual, realizando um trabalho louvável que, sem dúvida, merece nosso profundo reconhecimento. São enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, técnicos, médicos, indústrias variadas e toda uma legião administrativa e operacional ligada à saúde que, em conjunto, se mobiliza para assistir a população.
Com profissionais da saúde queridos e próximos a mim, não poderia deixar de dizer sobre o orgulho que sinto pela mobilização, pelo trabalho intenso e pela entrega que fazem por todos nós, mas, trabalhando no agro, também não posso deixar de olhar para esse setor que, desde o início da doença, se mostrou unido e disposto a colaborar.
Enquanto muitos de nós parávamos nas cidades, atendendo às recomendações das autoridades, nos campos, presenciávamos uma atividade crescente.
O setor fora da porteira, mesmo prejudicado por determinações de autoridades estaduais ou municipais, se mobilizava para garantir a oferta e logística necessárias para insumos, peças e serviços para o setor dentro da porteira.
Indústrias, portos, armazéns gerais se mobilizaram e adotaram medidas para continuar operacionais. Tivemos ameaças de greve, pressões diversas, bloqueios nas estradas, mas, para cada problema que surgia, lá estava o universo agro buscando caminhos.
O Ministério da Agricultura, competente e articulado, mobilizou um plano de ação para administrar os problemas à medida que surgiam. Para cada problema, um olhar. Não vamos dizer que foram dias fáceis e nem que eles acabaram, mas seguimos todos, iniciativa pública e privada, fomentando a parte que nos cabe no processo de fazer o Brasil se manter operacional.
Houve problemas sim, mas não falta comida in natura ou processada nas prateleiras dos pequenos, médios e grandes centros. Também não falta combustível, energia. Vale lembrar que, em épocas como essa, quando as incertezas são muitas, o pânico domina, e a primeira reação em massa é estocar produtos. Em alguns centros, isso aconteceu de forma isolada, mas o setor estava unido para resolver.
Muitas empresas do setor doaram recursos financeiros, outras, máscaras, álcool, várias disponibilizaram mão de obra, foram às ruas para garantir que não faltasse comida na mesa dos menos favorecidos.
Campanhas para dar condições aos caminhoneiros, que fazem a logística da maior safra de soja colhida no Brasil, foram eficazes. Gestos lindos foram presenciados pois, em alguns pontos, não havia parada para o caminhoneiro.
Entre tantos produtos, a safra do grão foi colhida durante o auge da crise, e os caminhões nas estradas fluíram, permitindo que o Brasil cumprisse compromissos.
No mercado interno, o desabastecimento de alguns produtos foram pontuais, e rapidamente o cenário foi restabelecido.
Com as limitações, temos um agro que se move. Um agro que se negou a ficar inerte e, mesmo abalado pelas dificuldades geradas, como as de crédito, soube partilhar.
Nunca vi tantos webinars, tantas lives e conteúdos disponibilizados de forma gratuita. Nunca vi, também, em um mesmo tempo, tantas campanhas para arrecadar doações de alimentos.
A Agro também foi ágil para possibilitar a muitos de seus colaboradores a trabalharem de casa. Em poucos dias, grandes corporações montaram uma estrutura completa de integração virtual, exemplo seguido em cascata por várias outras empresas.
O agro não só não parou, mas se reinventou e possibilitou a cada um de nós, brasileiros, a buscar nosso melhor e colaborar.
Sei que, como colunista da Strider, eu deveria trazer um texto contextualizando a Mulher do Agro em tempos de coronavírus, mas, mais do que nunca, o agro é plural. Homens e mulheres, atuando juntos.
Finalizo deixando aqui explícito o meu orgulho em fazer parte do agro e a sensação gostosa de poder fazer a minha parte nesse momento de crise. Vamos juntos, afinal, juntos somamos. Não se esqueça da citação do início do texto: o agro é inquieto, o agro é dinâmico.
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