A presença de populações elevadas de falsas-medideiras tem sido motivo de preocupação em muitas áreas cultivadas no Brasil. A diversidade de espécies, a amplitude geográfica dos grandes cultivos, os longos e quentes veranicos, as aplicações calendarizadas e indiscriminadas, o crescimento […]
A presença de populações elevadas de falsas-medideiras tem sido motivo de preocupação em muitas áreas cultivadas no Brasil. A diversidade de espécies, a amplitude geográfica dos grandes cultivos, os longos e quentes veranicos, as aplicações calendarizadas e indiscriminadas, o crescimento dos cultivos denominados “segunda safra” ou safrinha no Brasil e ainda as dificuldades inerentes ao estudo e controle deste grupo de pragas têm sido os principais motivos para que ocorram explosões populacionais desta praga cada vez mais frequente nos cultivos agrícolas do País.
Estas falsas-medideiras são velhas conhecidas dos produtores brasileiros, pois, apesar de terem sido caracterizadas no passado como pragas secundárias, a presença destas espécies de lagartas tem se tornado cada vez mais constante nas lavouras do país, principalmente de soja e algodão. E, nos últimos anos, passaram a preocupar os produtores brasileiros, pois trocaram o “status” de praga secundária para praga-chave de cultivos como a soja e uma das causas certamente é a abundância de alimentos o ano inteiro.
O aumento desta praga pode estar ligado, também, conforme muitos afirmam, ao uso de fungicidas nas lavouras de soja, pois além de controlar fungos causadores de doenças nas plantas, esses produtos podem estar eliminando os fungos entomopatogênicos, que cumprem papel importante no controle biológico natural de muitas lagartas, uma vez que a constatação de doenças fúngicas nos insetos se tornou uma raridade nos monitoramentos de culturas como a soja.
Um exemplo bastante comum é o fungo Nomuraea rilyei responsável pela doença branca nas lagartas. Sua constatação nas lavouras de soja e algodão tem se tornado cada vez menos frequente. Enfim, culpa ou não das aplicações de fungicidas, o problema com as falsas-medideiras se estabeleceu de forma bastante drástica nos cultivos e o que é pior, os produtores utilizam apenas os químicos no controle deste complexo de “plusias”, dos quais fazem parte a Chrysodeixis includens, a Rachiplusia nu e a Tricloplusia ni.
A espécie mais frequente dentro deste grupo de falsas-medideiras é a C. includens, (Lepidoptera: Noctuidae) anteriormente chamada de Pseudoplusia includens. As formas adultas são mariposas com asas de 35mm de envergadura, sendo que em repouso estas asas ficam dispostas em forma de telhado. O primeiro par de asas apresenta coloração marrom com brilho cúpreo, além de duas manchas distintas de cor prateada-brilhante na parte central de cada asa. O segundo par de asas possui coloração marrom-clara e bordos escuros. Além disso, possuem tufos de pelos próximos à cápsula cefálica.
A lagarta apresenta coloração verde-clara com uma série de linhas brancas, longitudinais, distribuídas sobre o dorso, sem microespinhos laterais no tegumento e nos estágios finais de desenvolvimento a região posterior do abdômen pode se apresentar volumosa, podendo alguns espécimes exibir pontos pretos nas laterais. A lagarta pode ser chamada de “medideira”, “mede-palmo” ou “falsa-medideira”. Essa denominação se dá devido ao fato de apresentar apenas três pares de pernas abdominais, o que a obriga a caminhar medindo palmo durante todo seu desenvolvimento.
Na fase inicial pode ser confundida com a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) que também caminha medindo palmo, porém, somente nos primeiros estágios. Esta semelhança na fase inicial das duas lagartas levou muitos técnicos a recomendações equivocadas de controle, visto que as doses dos inseticidas utilizados para a lagarta da soja são muitas vezes a metade das doses recomendadas para as falsas-medideiras.
As pupas são verdes-brilhantes e se localizam geralmente em invólucros construídos pela própria lagarta com as folhas da soja e fios de seda que os próprios insetos produzem antes de empupar. O ciclo de ovo a adulto pode variar de 23 a 46 dias em média (ovo: de três a cinco dias; lagartas: de 13 a 23 dias; pupa: de 7 a 15 dias e longevidade dos adultos: 15 dias), podendo apresentar até três gerações por safra e cada fêmea pode colocar até 600 ovos, normalmente, de forma isolada e no verso dos folíolos.
As lagartas, geralmente, passam por seis instares e a avidez por folhas aumenta conforme o seu desenvolvimento, portanto, lagartas nos primeiros estágios ocasionam, com o seu ataque, pequenas manchas semitransparentes, consequência da eliminação do parênquima foliar sendo observadas, principalmente no terço médio inferior das plantas. À medida que as lagartas vão se tornando maiores passam a devorar os tecidos das folhas, dos quais só deixam as nervuras proporcionando um aspecto rendilhado bem característico de ataque da praga. Além dos folíolos, pode atacar flores e vagens, sendo um comportamento cada vez mais frequente nas lavouras de soja.
No Brasil, a C. includens pode ser encontrada de Norte a Sul do país, porém, sua ocorrência tem se tornado comum e cada vez maior nas lavouras onde se cultiva a soja, como, por exemplo, o Centro-Oeste, apresentando grande adaptabilidade mesmo em regiões com altas temperaturas. O fato é que segundo estudos recentes, a mudança na distribuição de muitas espécies, incluindo alguns insetos, foi induzida por um modesto aumento da temperatura menor que 1°C e isso é, com certeza, um alerta sobre os efeitos dramáticos do “aquecimento global” contínuo ao longo dos próximos séculos.
As falsas-medideiras possuem ampla lista de plantas hospedeiras, pois são registradas em torno de 70 plantas entre silvestres e cultivadas, com capacidade para manter populações de C. includens, e além da soja e o algodão, são hospedeiros da praga o feijão, o repolho, o quiabo, a batata-doce, o fumo, o girassol, a alface, a couve-flor, o gergelim e nos últimos anos, principalmente no estado de Goiás, sua presença em cultivos de tomate tem sido cada vez maior.
Sabe-se que, entre os insetos-praga presentes em cultivos de soja, as lagartas desfolhadoras têm papel-chave, pois a maior parte dos problemas enfrentados pelos produtores é ocasionada exatamente por estas pragas e as falsas-medideiras, atualmente, são as grandes vilãs. E um dos fatores para este aumento populacional de falsas-medideiras é o uso inapropriado ou prolongado de agroquímicos não seletivos e de largo espectro, que eliminam não só a praga, mas também os inimigos naturais. Portanto, o manejo integrado pode ser um caminho para o equilíbrio entre as espécies que causam danos e seus inimigos naturais.
Em se tratando de Manejo Integrado de Pragas (MIP), sua implementação requer informações básicas sobre a biologia, a fisiologia e a ecologia da praga em questão e de seus inimigos naturais. Além disso, o conhecimento da fenologia da cultura na região, das condições climáticas, dos níveis populacionais da praga que a cultura ou cultivar podem tolerar, sem que haja queda na produtividade, são indispensáveis para a obtenção de resultados positivos no manejo integrado destas lagartas.
Compreende-se que, na grande maioria dos sistemas produtivos brasileiros, a sucessão de culturas é uma tradição e, portanto, dificilmente os produtores deixarão de plantar enquanto a possibilidade de produzir existir. Porém, cultivos escalonados e/ou sucessivos, sem um período de descanso para a área, permitem o aumento da quantidade destes fitófagos, tornando as lavouras grandes mantenedoras de pragas, inclusive das desfolhadoras como as falsas-medideiras.
Assim, se pelo menos os produtores adotassem como medida preventiva a destruição de tigueras, soqueiras e plantas daninhas hospedeiras, já dificultariam a perpetuação destas espécies no campo. Além disso, as boas práticas agrícolas como, por exemplo, preparo de solo adequado, adubação equilibrada, uso de cultivares adaptadas à região, aliadas a condições climáticas favoráveis, podem ajudar na recuperação da área foliar após um ataque de desfolhadoras.
O primeiro passo para o estabelecimento do manejo deste complexo de plusias nas lavouras de soja é o monitoramento e, neste caso, é possível adotar duas frentes de observação. A primeira seria a instalação de armadilhas com o feromônio da praga, tecnologia disponível já há algum tempo no Brasil, mas pouco utilizada pelos produtores. Outra é o método da batida de pano, com monitoramentos semanais. No manejo integrado, as amostragens são imprescindíveis para o conhecimento real da população de pragas na área e determinarão o momento mais adequado para adoção de qualquer tática de controle.
O controle biológico natural também deve ser levado em consideração para esta praga e, neste caso, vale lembrar que o uso de inseticidas seletivos e a manutenção de áreas de refúgio podem facilitar a sobrevivência dos inúmeros inimigos naturais presentes e em ação nas lavouras de soja, como, por exemplo, os predadores (percevejos, carabídeos, aranhas, tesourinhas, joaninhas, entre outros), os parasitoides (como a espécie Copidosoma truncatellum, parasitoide comum em lagartas medideiras, e o Trichogramma spp., parasitoides de ovos) e as doenças (entre elas os fungos como o N. rileyi e os vírus responsáveis, diga-se de passagem, por inúmeras epizootias nas lavouras de soja deste ano em Goiás).
Assim, é muito importante que os produtores conheçam e reconheçam no campo o papel destes grandes aliados das culturas, pois sua constatação e quantificação podem determinar um nível de não ação, que significa deixar que a própria natureza, através dos inimigos naturais, faça o seu papel controlando as pragas, com pouca ou quase nula intervenção humana. Fazer esta opção parece um tanto questionável para muitos, mas é preciso entender que sob condições normais de cultivo, muitas vezes, um desfolhamento pode não representar perdas significativas de produtividade e acaba por beneficiar o estabelecimento dos agentes naturais de controle sempre presentes nas lavouras de soja. Além disso, dá chances para que a própria cultivar expresse todo seu potencial de recuperação ao ataque de desfolhadoras como as medideiras. Entretanto, essa é uma questão ainda longe de ser aceita, ainda mais na atual realidade em que se encontram os cultivos de soja no Brasil.
Quanto ao controle químico, a primeira atitude a ser tomada é evitar a calendarização e a adoção de aplicações caronas ou preventivas, pois esse complexo de plusias não tem dia e nem hora predeterminados para surgir nas lavouras e aplicações desnecessárias ou indiscriminadas podem agravar a situação desta e de outras pragas nas áreas cultivadas.
Com base na experiência de muitos, sabe-se que as infestações de falsas-medideiras são mais frequentes na fase reprodutiva da soja, dificultando em muitos casos o controle, visto que estas lagartas não se encontram tão expostas como a lagarta da soja (A. gemmatalis).
Porém, isso não é regra e a tomada de decisão deve ser baseada unicamente, a partir do monitoramento. E, ao contrário do que vem sendo adotado nas últimas safras, o inseticida químico deve ser utilizado com o intuito de alterar a população de desfolhadoras para níveis aceitáveis, sem que haja impacto ambiental e com retorno econômico ajustado ao investimento.
Entre as classes utilizadas para controle de falsas-medideiras, estão presentes as diamidas, os reguladores de crescimento, os fosforados, os carbamatos, os biológicos e o naturalyte. Porém, é importante salientar que não somente a molécula, mas a dose, o percentual de controle, o residual, a seletividade a inimigos naturais e, por fim, as condições climáticas devem ser levados em consideração no momento da escolha e aplicação do produto.
Vale ressaltar também que o controle não pode ser direcionado apenas para a fase larval da praga, pois os adultos, as pupas e os ovos podem ser alvos interessantes quando se objetiva um controle mais eficiente e duradouro e, para isso, a adoção de iscas atrativas no controle de adultos ou mesmo liberações de parasitoides de ovos podem ser alternativas bastante viáveis e precisam ser mais exploradas pelos produtores e técnicos da área.
Outra estratégia a ser empregada no Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a tecnologia de plantas geneticamente modificadas (transgênicas), que são tolerantes a lagartas devido à inserção de genes isolados a partir da bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis (Bt). A inclusão destes genes de Bt em plantas permite a produção de proteínas que possuem ação inseticida e com isso passam a proteger as plantas contra o ataque de determinadas pragas desfolhadoras, entre elas as falsas-medideiras. Entretanto, a adoção desta tecnologia exige certos cuidados, que incluem o estabelecimento de áreas de refúgio, que consiste no cultivo de plantas convencionais próximo às áreas Bts. O refúgio produz indivíduos suscetíveis que podem acasalar com os indivíduos resistentes presentes na cultura Bt, aumentando, dessa forma, sua eficiência e retardando a evolução da resistência das pragas-alvo da tecnologia.
Fonte: Grupo Cultivar
Foto: Embrapa
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