por José Antonio Rossato Jr. Qual o impacto de uma inovação na agricultura? Toda nova técnica a ser implementada traz consigo a oportunidade de produzir mais com menos, e desta forma, produzir alimentos, fibra e energia com sustentabilidade. Em alguns […]
por José Antonio Rossato Jr.
Qual o impacto de uma inovação na agricultura? Toda nova técnica a ser implementada traz consigo a oportunidade de produzir mais com menos, e desta forma, produzir alimentos, fibra e energia com sustentabilidade. Em alguns casos a inovação altera completamente um conceito tradicional. Se diferencia
e abre espaço para um novo modelo estratégico, que recebe o nome de “oceano azul”.
A cultura da cana-de-açúcar, certamente uma das atividades produtivas mais longevas no Brasil, possui um modelo tradicional de plantio, feito através de pedaços de colmos, conhecidos como “toletes”. O sistema tradicional de plantio, realizado desde 1532 quando os primeiros toletes de cana chegaram em território Brasileiro através da colonização Portuguesa, se esgotou. A técnica de MPB – Muda Pré-Brotada, surge como o “oceano azul” e tem alterado completamente o sistema de plantio de cana-de-açúcar.
A utilização de MPB tem sido formatada e difundida através do Centro de Cana do IAC (Instituto Agro-
nômico de Campinas) e está alicerçada no binômio: redução do volume de colmos utilizados para o plantio (diminuição do custo) e garantia da sanidade da muda (evitar a disseminação de formas biológicas de insetos-praga). Estes dois fatores têm interferido negativamente nos resultados do setor sucroenergético nas últimas safras.
Em relação ao primeiro, a mecanização do plantio da cana-de-açúcar tem aumentado em média 100% o consumo de muda para o plantio, e chega a atingir cerca de 20 toneladas de colmos para cada hectare plantado. Ainda, este maior consumo de muda impacta diretamente no volume potencial de cana-de-açúcar disponível para a colheita (custo de oportunidade).
Em relação ao aspecto fitossanitário, no período entre os anos 2006-2009 houve uma expansão mal planejada do plantio de cana-de-açúcar. Guiado por um possível aumento na demanda de etanol no mercado externo e estimulado por um aparente incentivo do governo federal (já conhecemos o desfecho desta história), o setor não respeitou bases importantes da agronomia e negligenciou a qualidade da muda de cana-de-açúcar a ser utilizada para o plantio. O resultado: houve a disseminação de mudas contaminadas por formas biológicas de pragas, principalmente do inseto-praga Sphenophorus levis, conhecido como “bicudo-da-cana”.
Essa praga, até então restrita geograficamente à região de Piracicaba-SP, foi disseminada nos principais polos de produção da região Centro-Sul e trouxe enorme prejuízo aos canaviais.
Através da utilização de MPB no plantio do canavial, apenas 2 toneladas de mudas são consumidas para a produção de MPB suficiente para o plantio de 1 hectare. Se utilizada em sistema de meiosi (método inter-rotacional ocorrendo simultaneamente) essa quantia é reduzida à 5 a 10% deste montante. Neste sistema, há também a oportunidade de agregar, de forma planejada, o plantio de amendoim ou soja como culturas de rotação, o que traz benefícios agronômicos e econômicos. Ainda, em relação a qualidade fitossanitária, os mini-rebolos que originam as MPB recebem tratamento térmico para o controle da bactéria causadora do raquitismo, além de não disseminar formas biológicas de Sphenophorus.
A decisão de incorporação da tecnologia de MPB está nas mãos dos fornecedores e das agroindústrias. Sua aquisição pode ser feita através das empresas multinacionais, em produtores com polo de produção ou no modelo de produção própria na propriedade rural (case Coplana, Socicana e IAC).
A partir da instalação de um canavial com pureza genética, alta qualidade e menor volume de muda consumido, é dado um importante passo inicial para alcançar elevados níveis de TCH (tonelada de cana por hectare), alta longevidade e maior retorno sobre o investimento. De forma notável, a técnica de MPB se consolida como o oceano azul frente aos desafios do setor sucroenergético.
José Antonio Rossato Jr. é docente e pesquisador de ensino superior do curso de Agronomia e da Pós-graduação na Faculdade “Dr. Francisco Maeda” – Fafram, em Ituverava-SP. Possui experiência internacional em pesquisa, por meio de estágio de graduação no Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) na University of California, doutorado sanduíche na University of Nebraska e Pós-Doutorado na University of Alberta.
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