Se há um consenso entre os produtores rurais e todos os profissionais que atuam na cadeia do agronegócio é que essa é uma área que demanda investimento. Mas há um tipo específico de investimento que requer visão estratégica para ser […]
Se há um consenso entre os produtores rurais e todos os profissionais que atuam na cadeia do agronegócio é que essa é uma área que demanda investimento. Mas há um tipo específico de investimento que requer visão estratégica para ser compreendido como um esforço que vale a pena: o que envolve tecnologia. Sistemas, softwares, soluções tecnológicas que prometem otimizar os processos no campo e resolver problemas de produtividade despertam o interesse dos gestores das fazendas, mas também a desconfiança quanto ao retorno proporcionado.
Para o professor de finanças empresariais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Aureliano Bressan, os investimentos em tecnologia, em qualquer atividade produtiva e em especial no agronegócio, devem ser encarados como, de fato, investimentos, e não como gastos. Mas, como todo investimento, o tecnológico também deve ser bem planejado e executado.
Para Bressan, é fundamental, de início, que o produtor rural identifique quais os gargalos que impedem o aumento de sua produção. Ele sugere que, de posse dessa informação, o produtor procure sua associação de classe ou institutos de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para buscar parcerias na implementação de um programa de desenvolvimento de novas tecnologias em sua lavoura.
“Há uma medida para estimar o tempo de recuperação de um investimento, conhecida como payback. Ela nos mostra, em um único número, a quantidade de meses ou anos que são necessários para recuperar, com as novas receitas, ou mesmo redução de custos gerada pela nova tecnologia, os desembolsos feitos na implantação do projeto”, explana Bressan.
“Dessa forma, se o payback de um projeto é 25 meses, por exemplo, é de se esperar que em aproximadamente dois anos o investimento se pague, ou seja, o valor empregado na nova tecnologia seja compensado pelos benefícios que ela trouxe para a empresa”, completa.
O professor considera interessante recorrer aos profissionais e consultores especializados para elaboração de estudos de viabilidade técnica e econômica do investimento, que indicam os desembolsos ao longo do tempo e os resultados esperados na adoção da nova tecnologia, fazendo projeções de rentabilidade e risco.
Investimento decisivo
A Secretaria Executiva da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão (CBAP) estima que cerca de 67% das propriedades agrícolas do Brasil fazem uso de algum tipo de tecnologia, seja na área de gestão dos negócios ou nas atividades diretas de cultivo e colheita.
Aureliano Bressan elucida que investimento em tecnologia abarca todo aquele que faça uso de algum processo visando aumentar a produção, ou mesmo reduzir custos ou o tempo de execução de uma tarefa na empresa. “Se um empresário do agronegócio utilizar um sistema de coleta de dados por meio de softwares com GPS instalado em suas máquinas agrícolas, não apenas monitora com detalhes o tempo gasto na atividade, mas também identifica regiões que são mais produtivas para determinado tipo de lavoura, ou ainda aquelas que precisam de correção específica do solo” exemplifica.
“Os investimentos em tecnologia auxiliam o empresário na redução da incerteza que é inerente ao processo produtivo, sendo úteis na sistematização de informações que, em muitos casos, estão espalhadas por diversos setores da empresa”, defende o especialista, que cita a agricultura de precisão, com o uso de softwares que monitoram a produção em tempo real, como uma tendência estratégica que vem ganhando espaço no setor.
Aureliano argumenta que a aposta em tecnologia tende a aumentar a produtividade ao facilitar o processo de tomada de decisão – como a implementação de sistemas computacionais para organizar a rotina produtiva – e a alocação de insumos, como fazem, por exemplo, ferramentas de gestão e controle de processos e estoques.
Ele conta que, mais que qualquer outra atividade, o agronegócio moderno faz uso intensivo de big data, que fornece informações minuciosas sobre o processo produtivo. “Esses dados são analisados em tempo real por softwares capazes de diagnosticar, em um curto espaço de tempo, quais são as ameaças ao processo produtivo e quais correções devem ser implementadas, de modo a potencializar ganhos de produtividade no campo”, explica.
O professor acredita que o investimento em tecnologia é decisivo para o agronegócio brasileiro, sendo, em um futuro próximo, o principal elemento de diferenciação entre as propriedades competitivas das não competitivas. Por esse motivo, Bressan, que é doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), recomenda que os produtores rurais estejam mais atentos e abertos a esse tipo de investimento.
O cientista ressalta que é muito importante que a mudança implementada pela tecnologia seja transmitida a todos os profissionais diretamente envolvidos nos novos processos, com programas de treinamento e requalificação. “Tanto empresários quanto colaboradores devem se atualizar regularmente com as novas tendências e oportunidades que as tecnologias relacionadas ao uso massivo de dados podem trazer para o agronegócio”, finaliza.
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