Foto: Justin Anthony Groves Planta daninha Cirsium arvense prejudica trigo,soja, aveia e milho O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa elaboraram, pela primeira vez em conjunto, uma lista com as 20 pragas quarentenárias ausentes prioritárias para ações de […]
Foto: Justin Anthony Groves
Planta daninha Cirsium arvense prejudica trigo,soja, aveia e milho
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa elaboraram, pela primeira vez em conjunto, uma lista com as 20 pragas quarentenárias ausentes prioritárias para ações de vigilância e pesquisa, que, caso entrem no País, ameaçam culturas como milho, soja, mandioca, batata, arroz e várias frutas.
Na definição da própria Embrapa, são “todo organismo de natureza animal e/ou vegetal, que estando presente em outros países ou regiões, mesmo sob controle permanente, constitui ameaça à economia agrícola do país ou região importadora exposta”.Existem atualmente cerca de 500 pragas quarentenárias – entre fungos, insetos, bactérias, vírus, nematoides e plantas daninhas – oficialmente reconhecidas como ausentes no Brasil.
Das 20 pragas listadas como prioritárias, três já contam com planos de contingência: o fungo Moniliophthora roreri, que infecta os frutos do cacaueiro; o inseto Cydia pomonella, que ataca principalmente a maçã; e o Candidatus Phytoplasma palmae, fitoplasma que causa o amarelecimento-letal-do-coqueiro.
As 20 pragas quarentenárias ausentes prioritárias
Confira um breve resumo de cada uma das 20 pragas quarentenárias ausentes priorizadas (em ordem alfabética), com informações básicas sobre qual o tipo de praga, a cultura que ataca, onde está presente hoje no mundo e por que representa uma ameaça para o Brasil.
1-African Cassava Mosaic Virus – vírus (mandioca)
Considerada a doença mais significativa da cultura da mandioca, o mosaico da mandioca é causado por um complexo de diferentes vírus, predominante em todas as regiões de cultivo de mandioca da África subsaariana e no subcontinente indiano. Possui várias formas de transmissão, incluindo a enxertia e inoculação mecânica em espécies de plantas herbáceas. Também é propagada por meio de manivas (ramas) infectadas. Uma característica fundamental das áreas geográficas gravemente afetadas pelo mosaico é a presença de grandes populações de moscas-brancas nas plantações, eficiente vetor desse complexo viral. A transmissão é do tipo persistente, e o vírus pode ficar retido na mosca-branca por até nove dias.
2-Anastrepha suspensa – inseto (goiaba)
Também conhecida como a mosca-das-frutas-do-caribe, ataca preferencialmente a goiaba, mas infesta várias outras espécies de importância econômica, como os citros. É originária das ilhas do Caribe, onde está distribuída por toda aquela região, além do sul e centro da Flórida e Guiana Francesa. Há significativo risco de introdução no Brasil, pela fronteira com o Estado do Amapá.
3-Bactrocera dorsalis– inseto (frutíferas)
É uma espécie de mosca-das-frutas com alta capacidade reprodutiva. Ataca mais de 300 espécies de plantas, como goiaba, laranja, maçã, manga e pêssego. Está amplamente distribuída na Ásia (onde se originou). É a principal e mais destrutiva praga de frutas nos países em que se encontra e está entre as cinco principais pragas agrícolas no Sudeste Asiático. Bactrocera dorsalis é uma ameaça para a fruticultura brasileira, pois o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo e exporta cerca de 800 mil toneladas de frutas frescas por ano, sendo a maior parte das fruteiras hospedeiras da praga.
4- Boeremia foveata – fungo (batata)
A gangrena-da-batata tem como agente etiológico o fungo Boeremia foveata. As culturas da batata, beterraba, cenoura, cevada, ervilha, cidra e quinoa são hospedeiras do fungo, que é nativo da região dos Andes. O risco de introdução no Brasil deve-se à presença do patógeno em países fronteiriços (Colômbia e Peru), além do Chile na América do Sul. Esse fungo pode sobreviver no solo, mas a principal forma de dispersão se dá por trânsito de batatas-sementes infectadas.
5- Brevipalpus chilensis – ácaro (kiwi, videira)
Ácaro conhecido como falso-ácaro-vermelho-chileno, tem como principal hospedeiro a uva, mas também ataca kiwi, limão, caqui, cherimoia, ligustro e várias flores e plantas ornamentais. Os ácaros se desenvolvem na parte de baixo das folhas, principalmente ao longo das nervuras, causando amarelecimento e encarquilhamento de folhas e morte de brotos. Devido ao seu tamanho diminuto, B. chilensis pode ser facilmente transportado em material vegetal vivo ou morto. É uma ameaça para cultivos de uvas no sul do Brasil.
6- Candidatus Phytoplasma palmae – fitoplasma (coqueiro)
O amarelecimento-letal (AL) é uma doença causada pelo fitoplasma Candidatus Phytoplasma palmae. A transmissão desse microrganismo por meio da cigarrinha Haplaxius crudus já foi confirmada, sendo possível também haver outros insetos vetores envolvidos em sua disseminação. A região Norte do Brasil pode ser considerada a área com maior risco de introdução do AL, devido à proximidade com o Caribe e ao intenso trânsito de pessoas nas fronteiras portando material vegetal ou insetos transmissores infectados.
7- Cirsium arvense – planta daninha (trigo, milho, aveia, soja)
O Cirsium arvense (L.) Scop. (cardo-canadense) é uma planta infestante extremamente nociva em climas temperados. Afeta lavouras de ervilha, milho, feijões, alfafa, beterraba açucareira, trigo, soja, pastagens e pradarias, entre outras. A espécie merece atenção nos estados do Sul do Brasil, pois se apresenta morfologicamente semelhante a outros cardos já existentes nessa região, o que dificultaria sua detecção precoce.
8- Cydia pomonella – inseto (maçã)
Considerada a principal praga da maçã no mundo, trata-se de um inseto, uma mariposa. Os hospedeiros primários são a maçã, nozes, pera e marmelo, e secundários as frutas de caroço (pêssego, ameixa, nectarina, cereja e damasco). Embora atualmente seja considerada uma praga quarentenária ausente do Brasil, sua presença na Argentina e ampla distribuição geográfica (América do Sul, América do Norte, vários países da África, Europa, Rússia, países do Oriente Médio e Austrália) tornam a probabilidade de uma nova introdução não desprezível. O impacto seria considerável, visto o alto potencial biótico da praga para condições ambientais brasileiras.
9- Ditylenchus destructor – nematoide (milho, batata)
Nematoide com ampla gama de hospedeiros, que compreende mais de 90 espécies de plantas, sendo a batata a principal. Outras plantas hospedeiras são batata-doce, cenoura, beterraba, plantas daninhas e várias plantas ornamentais. A espécie é capaz de sobreviver à dessecação e baixas temperaturas. Após o desenvolvimento do nematoide, os tecidos tornam-se necrosados e há invasão de bactérias, fungos, ácaros e outros nematoides.
10- Fusarium oxysporum f.sp. cubense Raça 4 Tropical – fungo (banana)
O fungo Fusarium oxysporum f.sp. cubense é o agente etiológico da doença denominada mal-do-panamá. A doença ocorre no País, mas especificamente a Raça 4 Tropical desse fungo é uma praga quarentenária ausente do Brasil e das Américas. Estima-se que mais de 80% das bananas cultivadas sejam suscetíveis a essa raça, com destaque para as cultivares do grupo Cavendish, resistentes às raças 1 e 2. No Brasil, pode causar sérios impactos à produção visto que praticamente todos os materiais plantados comercialmente são suscetíveis à Raça 4 Tropical.
11- Globodera rostochiensis – nematoide (batata)
O nematoide do cisto da batata é considerado uma das principais pragas da batata em áreas de clima temperado e também em climas mais quentes nas localidades mediterrânea e chilena onde as batatas são cultivadas durante a temporada inverno-primavera. Possui cerca de 150 espécies hospedeiras do gênero Solanum. Muitas dessas são espécies selvagens encontradas na América do Sul (batata amarela e batata roxa). Está presente também na África, Ásia, América Central (Panamá), Europa, além do Médio Oriente, América do Norte e Oceania. Pode demorar até 20 anos a partir do momento em que G. rostochiensis é introduzido em uma área antes de os sintomas serem observados nas plantas de batata. As perdas podem ser de até 80% em áreas tropicais de cultivo de batata, nos quais o nível de infestação pelo nematoide é alto e o cultivo é contínuo.
12- Lobesia botrana – inseto (videira)
Inseto conhecido popularmente como traça-da-uva ou traça-dos-cachos-de-uva. Trata-se de uma pequena mariposa, com menos de um centímetro e meio que ataca as flores e os frutos das videiras. Está presente tanto na Argentina quanto no Chile, que exportam uvas para o Brasil, sendo que a Argentina faz fronteira com o País, ou seja, pode ser introduzida na região Sul, que tem áreas de produção de uvas e condições climáticas para que a praga se estabeleça.
13- Moniliophthora roreri – fungo (cacau)
A monilíase tem como agente etiológico o fungo Moniliophthora roreri. As culturas do cacaueiro e do cupuaçuzeiro sofrem os maiores impactos da praga. Mas a doença pode incidir também sobre plantas silvestres do gênero Herrania, conhecidas como cacau-jacaré. A incidência da doença em países fronteiriços eleva o risco de introdução no Brasil pela região Norte. Estima-se que a monilíase pode causar perdas de até 80% na produtividade de frutos no Brasil, caso não haja controle da doença, com o consequente abandono de áreas ou aumento dos custos de produção.
14- Pantoea stewartii – bactéria (milho)
É uma bactéria originária da América e afeta o milho, principalmente o milho doce, causando uma murcha conhecida como a doença de Stewartii. Os sintomas caracterizam-se por listras amarelas, encharcadas ao longo das folhas e pela murcha. A bactéria sobrevive em restos culturais e é transmitida por sementes. Uma forma importante de dispersão dá-se, ainda, pelo inseto-vetor, o besouro Chaetocnema pulicaria. A doença de Stewartii foi verificada, inicialmente, nos Estados Unidos, em 1898. Na Europa, existem relatos na Áustria, Grécia, Polônia, Romênia e Rússia, onde a bactéria é considerada de menor importância devido, provavelmente, à ausência do vetor. Sérios impactos econômicos podem ser considerados com a introdução da bactéria no Brasil devido à importância do milho como alimento ou commodity.
15- Plum Pox Virus – vírus (pessegueiro, ameixeira)
Sharka ou plum pox é uma das doenças mais destrutivas de frutos de plantas do gênero Prunus. É particularmente prejudicial em damasco, ameixa-europeia, pêssego e ameixa-japonesa, porque reduz a qualidade e causa queda prematura de frutos. A transmissão por enxertia pode contribuir para a disseminação viral se o material de plantio a ser utilizado não for certificado.
16- Striga spp. – planta daninha (milho, caupi)
Striga ou witchweed (erva-de-bruxa) é um gênero parasita do sistema radicular que drena nutrientes, carboidratos e água das plantas hospedeiras causando atrofia, murcha e clorose. É semiparasita de cereais como milho, sorgo e arroz e de cana-de-açúcar, e é considerada a espécie do gênero mais difundida pelo mundo. Essa espécie ocorre no Leste da África e recentemente foi relatada na Flórida e Guiana.
17- Tomato ringspot virus – vírus (frutíferas e tomate)
Vírus que infecta fruteiras de clima temperado, como framboesa, amora, maçã, ameixa, cereja, pêssego, uva e morango, que são propagadas principalmente por mudas e estacas, perpetuando os vírus nos pomares, caso o material esteja infectado. Além disso, é transmitido por sementes de framboesa, morango, pelargônio, soja, tabaco e tomate. Também infecta pimenta, pepino, lírio e orquídeas. A principal ameaça do vírus ao Brasil está representada por sua ampla gama de hospedeiros. Essa ameaça pode se tornar maior em virtude de trânsito de material vegetal infectado e solo com presença de nematoides transmissores.
18- Toxotrypana curvicauda – inseto (mamão)
Conhecido como a mosca-do-mamão, o inseto também já foi encontrado em manga e outras plantas. Os frutos infestados com suas larvas tornam-se amarelos e caem da árvore prematuramente. A praga dissemina-se por meio do transporte de frutos infestados e por amostras de solo. Considerando a relevância socioeconômica do cultivo de mamão no Brasil (um dos maiores produtores e exportadores da fruta), a introdução de Toxotrypana curvicauda no País causaria grandes prejuízos.
19- Xanthomonas oryzae pv. oryzae – bactéria (arroz)
Trata-se de uma bactéria que causa a queima bacteriana do arroz ou a murcha denominada “Kresek” em plântulas. O seu potencial de introdução em áreas indenes ocorre por meio de sementes, solos e água contaminados e por meio de plantas selvagens. Representa uma ameaça para o Brasil, pois a bactéria pode ser introduzida pelas sementes e se adaptar em áreas de plantio com temperaturas e umidade elevadas em diferentes biomas.
20- Xylella fastidiosa subsp. fastidiosa – bactéria (videira)
A bactéria Xylella fastidiosa subsp. fastidiosa causa a doença conhecida como mal- de-pierce da videira, além de infectar outras espécies vegetais, incluindo a amendoeira e a alfafa. O controle químico dos vetores não traz resultados promissores. A bactéria pode se dispersar por meio de material de propagação vegetativa contaminado e pode causar sérios danos à viticultura do País na circunstância de uma introdução inadvertida.
Fonte: Grupo Cultivar
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