O ouro da Amazônia que conquistou o Brasil
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Mundo afora: o ouro da Amazônia que conquistou o Brasil

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Assim como o açaí é cercado por uma lenda indígena, a pupunha também tem uma história nativa amazônica para chamar de sua. Pouco conhecida, a narrativa conta que a pupunha era uma linda criança de cabelos cor de ouro e […]

por Syngenta Digital
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O ouro da Amazônia que conquistou o Brasil
Árvore de pupunha

Assim como o açaí é cercado por uma lenda indígena, a pupunha também tem uma história nativa amazônica para chamar de sua. Pouco conhecida, a narrativa conta que a pupunha era uma linda criança de cabelos cor de ouro e estranha à sua tribo, formada por pessoas de pele morena e cabelos negros.

Pela inadequação, a pequena foi entregue ao cacique para ser sacrificada. Enterrada em solo fértil, deu origem a uma imponente palmeira de frutos dourados e saborosos. Já pre-destinada a esse fim, a criança que se tornou a pupunheira seria um presente da Deusa da Floresta à tribo, que sofria com a fome em tempos de inverno.

A pupunha é, sem dúvida, uma dádiva tal qual prevista pelos indígenas. Versátil, pode ser consumida de diversas maneiras, sendo um alimento altamente nutritivo. Na região norte do Brasil, o costume de comer o fruto da pupunha é patrimônio cultural e atravessa gerações.

“Há uma ampla variabilidade entre os frutos da pupunheira refletida nos diferentes tamanhos e cores, mas há uma tendência para coloração amarelo-alaranjada devido à forte presença de caroteno”, explica a nutricionista paraense Thayana Moreira.

De acordo com a nutricionista, apesar de ser utilizado no preparo de sopas, tortas, cremes e bolos, o fruto da pupunheira é consumido geralmente cozido em água com sal e é protagonista de um bom café da manhã ou da tarde.

“Aqui, a pupunha é consumida a qualquer hora, especialmente acompanhada de café com leite ou café preto”, relata Thayana.

O mineiro Fernando Gomes, que morou em Manaus por 15 anos, conta que no começo estranhou o hábito, mas se apaixonou pela iguaria. “Quando cheguei na cidade, não foi tão fácil me acostumar com as peculiaridades da culinária amazonense. Mas, já no primeiro mês, tive o prazer de conhecer o gosto inigualável da pupunha”, relembra. Desde então, passou a comprar, nas feiras populares, cachos do fruto para comer em casa e a procurar por bancas de lanche nas ruas que servissem pupunha cozida. Atualmente morando em Recife, ele diz sentir falta do sabor.

Receita com pupunha

Letícia Lima Gomes, estudante de 17 anos e filha de Fernando, é manauara autêntica e conta que come pupunha desde que se entende por gente. “Eu fui criada comendo o fruto, aqui no Amazonas é assim. É algo que envolve todo mundo da casa. Quando criança, eu adorava sentar para descascar a pupunha que minha mãe tinha colocado para cozinhar”, narra. É um alimento essencial, servido até mesmo no lanche das escolas, principalmente com picadinho de peixe e farinha”.

Ela ressalta que a substância atua na saúde da pele, olhos e cabelos. Ainda, o fruto possui minerais como potássio e selênio — anticancerígeno e antioxidante —,teores elevados de fósforo, cálcio, ferro, vitamina A e quantidades razoáveis de vitamina C.

Ingrediente obrigatório na mesa dos nortistas, o fruto é um alimento barato e de fácil acesso, mas pode encarecer bastante fora do período de safra, dobrando de valor.

Palmito saboroso e sustentável

Joel Penteado Jr., analista da Embrapa Florestas, afirma que a produção de frutos de pupunha no norte do Brasil é praticamente exclusiva do extrativismo de plantas nativas e suficiente para atender à demanda local, sendo o estado do Amazonas o maior consumidor. Com o palmito de pupunha é bem diferente, já que a produção mundial de palmitos movimenta R$ 350 milhões anualmente, sendo o Brasil responsável por 74,3% do montante.

“Somos o maior produtor e consumidor de palmito do mundo. No entanto, os maiores ex-portadores são Equador e Costa Rica, devido, principalmente, aos plantios comerciais de pupunheira, que proporcionam controle de qualidade dos produtos, ganhos de escala e, consequentemente, preços mais baixos”, avalia o especialista.

Segundo Penteado, a área de plantio de pupunheiras destinadas à produção de palmito no Brasil é de 20 mil hectares. “Os estados de São Paulo e Bahia são os produtores mais expressivos, com mais de 5 mil hectares cada”, expõe.Ele acrescenta que o cultivo da pupunha para produção de palmito cresceu consideravelmente no Brasil especialmente por conta de características como perfilhamento e precocidade do corte, que representam vantagens para o produtor rural. “Além disso, o palmito da pupunheira não escurece rapidamente após o corte”, salienta.

Há, também, importantes questões ligadas à sustentabilidade que favorecem o palmito de pupunha. Por muito tempo, a produção nacional se deu a partir da exploração extrativista predatória da juçara. Nos anos 1970, esgotadas as reservas da espécie típica da Mata Atlântica, uma vez que a planta morre após o corte, o palmito brasileiro passou a ser extraído do açaizeiro. Nesse contexto, a cultura da pupunheira surgiu como alternativa viável para suprir o mercado.

“É um cultivo de caráter conservacionista, uma vez que, adequadamente manejado, diminui os impactos da erosão do solo podendo, inclusive, contribuir para a manutenção das características físico-quími-cas e da fertilidade da terra por meio do manejo dos resíduos da colheita”, defende Joel Penteado.

O analista sublinha, ainda, que o alto rendimento do cultivo da pupunha por unidade de área permite a adoção e a viabilidade econômica mesmo para pequenos produtores, com características típicas de agricultura familiar, sem a obrigatoriedade de ampliação e cultivos em grandes áreas, auxiliando na conservação dos recursos naturais da região.

A nutricionista mineira Sabrina Finelli acredita que a substituição dos palmitos de açaí e juçara pelo de pupunha, mais do que positiva do ponto de vista ecológico, não deixa a desejar em outros aspectos.“Além de ter valores nutricionais muito semelhantes aos dos outros palmitos, o de pupunha tem uma textura mais macia, o que agrada os consumidores”, revela.

A profissional lembra que o palmito de pupunha tem poucas calorias, ao contrário do fruto. “Para se ter uma ideia do valor calórico, 100 gramas do palmito equivalem em média a 1⁄4 de uma banana prata”, compara, elencando como benefícios para o corpo a prevenção de doenças degenerativas e o fortaleci-
mento do sistema imunológico.

Sabrina acredita que o palmito pode ser consumido sem moderação em saladas, tortas, sopas e outras receitas, mas faz um alerta quanto ao consumo da pupunha para quem ficou com vontade de experimentar o hábito amazonense e desconhece os truques: o fruto jamais deve ser consumido cru.“Devido à presença de cristais de oxalato de cálcio, também chamado de ácido oxálico, o fruto pode causar a sensação de ferroadas na língua e, ainda, inibira digestão, especialmente em crianças”, conclui.

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