O café certificado se destaca nas prateleiras do mercado, comprovando que o consumidor — nacional e internacional — busca, cada vez mais, conhecer o produto que consume. Do outro lado, o produtor que precisa atender a essa demanda pode contar […]
O café certificado se destaca nas prateleiras do mercado, comprovando que o consumidor — nacional e internacional — busca, cada vez mais, conhecer o produto que consume. Do outro lado, o produtor que precisa atender a essa demanda pode contar com a agricultura digital para garantir a oferta do café certificado.
Os cafés especiais conquistam cada vez mais mercado no Brasil e exterior. Nos primeiros meses de 2017, as exportações de cafés diferenciados – que têm qualidade superior ou são certificados com selos de práticas sustentáveis – representaram 14,8% do total de café embarcado para outros países. Os cafés diferenciados são cultivados nas mais variadas regiões cafeeiras do Brasil, mas a maior parte vem do Cerrado Mineiro.
O aumento da demanda é reflexo da exigência do consumidor, que está cada vez mais disposto a pagar pela experiência de saborear um café de melhor qualidade. Atentos a essa tendência, os cafeicultores brasileiros buscaram incorporar melhores práticas agrícolas e gestão sustentável às produções. Esse movimento, por sua vez, rendeu ao Brasil o título de maior produtor e fornecedor de café sustentável certificado no mundo.
A cadeia produtiva do café, uma das mais organizadas do agronegócio brasileiro, conta com vários programas de certificação, cada um com normas e códigos diferentes para atender requisitos específicos e exigências de empresas e consumidores de todo o mundo. Mas, para atender aos critérios da maioria dos programas, os cafeicultores precisam se empenhar muito e investir em tecnologias de precisão.
Para se adequar ao programa Certifica Minas Café, por exemplo, os produtores recebem orientações em mais de 100 itens, que devem ser obedecidos para se obter a aprovação. Esses itens levam em consideração a legislação trabalhista, uso correto e controlado de insumos e rastreabilidade do produto final – que significa a identificação registrada de todo o café produzido.
“Todas as atividades realizadas precisam ser registradas, garantindo segurança ao consumidor e possibilitando ao produtor um registro e análise dos seus custos, um melhor conhecimento da sua atividade e detecção de pontos de melhoria”, explica Bernardino Guimarães, Coordenador Técnico Estadual de Cafeicultura da Emater-MG, responsável pelo programa.
“A certificação é um processo abrangente com 103 itens de verificação e melhoria que são observados na propriedade. Esses itens abrangem a implantação da lavoura, adotando-se práticas de conservação do solo e água, de forma que a propriedade seja também uma produtora de águas limpas, retendo o máximo de águas das chuvas”, esclarece Guimarães.
Para isso, devem ser adotadas práticas de produção, controle de pragas e doenças – levando em consideração a eliminação ou redução do uso de agroquímicos, a contaminação do solo e do ambiente. São observadas ainda práticas como a proteção a biodiversidade, redução de CO2 e destinação adequada dos resíduos gerados nas propriedades.
O investimento para obter as certificações não é baixo. É preciso adaptar a propriedade às normas das certificações que são bem rígidas. “As relações entre os trabalhadores envolvidos na atividade devem respeitar a legislação vigente e os operadores de máquinas e equipamentos devem ser capacitados, minimizando o risco de acidentes”, relata o Técnico Estadual.
Sem tecnologia, sem certificação
De acordo com Wagner Ferrero, sócio diretor do Grupo Famiglia Ferrero, que coleciona prêmios pela qualidade de seus cafés Bourbon Amarelo (LC30-10), UVA (IAC 125) e Paraíso 2, a demanda no mercado brasileiro por cafés especiais gourmets ainda é baixa, mas o consumidor começou a aprender sobre café de verdade. “Surgiram várias boutiques e cafeterias especializadas no Brasil, isso foi bom para a educação do brasileiro em relação aos cafés especiais”, relata.
Ferrero esclarece que são vários códigos de conduta que levam em consideração licenças ambientais e vários pré-requisitos a cumprir para conseguir colocar um café certificado no mercado. “Você prova que usou os defensivos corretos e permitidos, que seus trabalhadores têm condições adequadas de trabalho, são registrados e que a empresa está atenta às leis trabalhistas”, explica.
O cafeicultor conta que não tem como pensar em certificação sem investir em tecnologia. “As certificações pregam a melhoria constante na produção. Utilizando uma tecnologia de monitoramento de pragas, por exemplo, você consegue detectar exatamente onde está tendo problemas com pragas, doenças e inimigos naturais. Então, você aplica defensivos apenas neste local específico. Se você tem uma área de 1000 hectares, por exemplo, e consegue aplicar exatamente no local com problema, deixa de aplicar na área total e começa a aplicar em apenas 10%. Isso é uma grande melhoria”, esclarece Ferrero.
Ele conta que para atender todas as normas, a fazenda precisava de um instrumento para análise de pragas, doenças e inimigos naturais, então, optaram por uma tecnologia de monitoramento de pragas. “É uma ferramenta espetacular. Com ela eu consigo saber o local exato em que preciso combater as ameaças e aplicar os defensivos apenas naquele local. Antigamente, era preciso aplicar na fazenda inteira, hoje aplicamos apenas no talhão em que há necessidade. Com esse controle, reduzimos em 30% as aplicações”, relata.
Dessa forma, o cafeicultor economiza com as aplicações e investe em outras melhorias para atender às normas das certificadoras. O investimento não para por aí. Para conquistar suas seis certificações, Certifica Minas Café; Rainforest Alliance Certified; Associação 4C; Nespresso AAA; Starbucks C.A.F.E; Practices e Utz Certified, o Grupo Famiglia Ferrero precisou investir ainda mais em cafeicultura de precisão. Utilizam sistemas de irrigação (com aproveitamento da água da chuva), aplicação de fertilizantes entre outros.
O Café Ferrero é reconhecido internacionalmente por sua qualidade, excelência e produção sustentável. As fazendas do grupo possuem inúmeras certificações e prêmios. O cuidado começa desde a seleção dos melhores grãos de cafés 100% arábica, cultivados em duas das melhores regiões produtoras de cafés finos do Brasil: Cerrado Mineiro (Fazenda Pântano) e Alta Mogiana. No processo, os grãos são eletronicamente selecionados, torrados e moídos, cuidadosamente embalados em um processo de alta tecnologia e sem contato manual.
“Hoje, nossa operação produz cinquenta mil sacas de café por ano em duas fazendas. 80% da produção é exportada para países como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Espanha, Itália, Reino Unido e Austrália”, diz o sócio diretor.
A tecnologia no dia a dia
Várias tecnologias de precisão auxiliam o cafeicultor para a tomada de decisão no campo. Isso interfere diretamente na qualidade do café produzido e em consequência nos processos de certificação do produto. Para além das tecnologias de monitoramento de pragas e irrigação, indispensáveis para otimizar o trabalho na lavoura de café, o sensoriamento remoto também contribui para análises inteligentes e combate de ameaças no plantio.
Com imagens geradas por meio de satélites ou de drones, é possível identificar exatamente onde estão os problemas no meio da lavoura. Em um local totalmente remoto, por exemplo, a probabilidade de uma pessoa conseguir diagnosticar problemas de biomassa, de praga ou de planta daninha é pequena. Mas se você tem uma imagem de satélite que te aponta esses problemas, pega as coordenadas e vai agir naquele foco.
Utilizando drones, por exemplo, é possível fazer aplicações praticamente cirúrgicas. Você aplica determinado produto naquela plantação e resolve o problema de uma vez, sem precisar de gastar uma fortuna de dinheiro em máquina ou em defensivos, o que pode refletir negativamente lá na frente, na certificação.
A tecnologia possibilita ao cafeicultor ter produções maiores e mais saudáveis. Se ele tem
uma produção de café certificado, como o Bourbon, por exemplo, cheia de grãos brocados, isso significa que ele terá de dispensar vários grãos daquela colheita, ou vender por um valor inferior.
Ferramentas de gestão também são indispensáveis e, sem elas, o cafeicultor não consegue fazer o registro adequado das informações para cumprir as normas das certificadoras. É preciso investir em um sistema que arquive todos os movimentos do agricultor em cada talhão ao longo da safra. Ele deve ter todas as informações processadas, mapas de calor, índices por pontos de população de praga e lançar também a quantidade de aplicações e tipo de defensivo utilizado.
Com isso, e o monitoramento adequado, ele terá base para tomar decisões com mais precisão e de maneira mais ágil, evitando pulverizações em excesso – com todos esses dados registrados no painel é só apresentar para a certificadora.
Outra forma de trabalhar a assertividade no café é a gestão de frota. Por meio do monitoramento de máquinas, o produtor consegue acompanhar a eficiência de uma colheita. Saber se a máquina está colhendo na velocidade adequada e a quantidade de café que está ficando no chão. Se a colhedora não estiver trabalhando de forma ideal, a quantidade do café de varredura será maior e esse café, que só será recolhido do chão dias depois do primeiro, com certeza perderá valor de mercado.
Por isso, a tecnologia de monitoramento está diretamente ligada à eficiência de colheita. Ela influencia no volume que o produtor vai conseguir de café certificado em determinada safra e de maneira geral agrega qualidade para a lavoura.
CURIOSIDADES
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