Texto escrito em parceria com o Núcleo de Estudos em Entolomogia da Universidade Federal de Lavras. Autores: Gabriela C. Pinheiro, Bianca P. Valério, Maria Fernanda G. V. Penaflor, Rosangela C. Marucci. Já ouviu falar de feromônio dos insetos? O olfato, a visão e a audição […]
Já ouviu falar de feromônio dos insetos?
O olfato, a visão e a audição são sentidos usados na comunicação dos insetos a curta e longa distância, enquanto a gustação e o tato são sentidos usados no contato seja com uma planta, hospedeiro ou presa, por exemplo.
O olfato é o sentido mais aguçado dos insetos, principalmente para aqueles ativos durante a noite, como as mariposas, já que a sua visão possui baixa qualidade da imagem formada, e se torna mais restrita em ambientes fechados, onde os insetos costumam se esconder.
Como a audição é usada apenas por insetos que produzem sons para o encontro de um parceiro sexual, como a cigarra, o olfato foi adaptado para reconhecer voláteis específicos de um organismo no ambiente para encontrá-lo.
A comunicação entre indivíduos da mesma espécie é mediada por meio de substâncias químicas chamadas FEROMÔNIOS, os quais geram uma resposta comportamental ou fisiológica nos indivíduos receptores. Existem vários tipos de feromônios, o de alarme, de trilha, marcação do hospedeiro, e os com finalidade sexual, como os feromônios sexuais e os de agregação, sendo estes dois últimos usados pelo homem para manipulação de insetos.
Imagine encontrar um parceiro a quilômetros de distância apenas pelo cheiro?
O feromônio sexual é um sinal químico produzido pelo inseto emissor para encontrar um parceiro sexual do sexo oposto, normalmente é liberado pelas fêmeas para o chamamento sexual.
Este tipo de chamamento depende do estado nutricional, da fisiologia e da maturação sexual da fêmea, que pode ocorrer logo após a sua emergência em adulto ou demorar alguns dias. Algumas fêmeas depois do acasalamento, podem não realizar mais o chamamento sexual, porque durante a cópula o macho pode liberar junto com seu esperma substância inibidora da produção do feromônio sexual, ou a própria fêmea pode perceber mecanicamente que já recebeu o esperma do macho e cessar a produção do feromônio, enquanto outras espécies de fêmeas podem liberar o feromônio sexual, realizando o chamamento sexual, alguns dias após o acasalamento.
O chamamento sexual precisa trazer algum benefício ao emissor, uma vez que, a emissão desse feromônio sexual acarreta custo energético e atração de seus inimigos naturais, então normalmente a fêmea seleciona o macho que trará maior qualidade ou alguma vantagem a sua prole.
Em alguns casos, o macho também possui capacidade de liberar feromônio sexual, para indicar à fêmea sua qualidade genética e, assim, conseguir transferir seus genes para a próxima geração. Uma das características do sucesso reprodutivo dos insetos é o chamamento sexual, e a percepção do melhor momento e local para se reproduzir, considerando as condições bióticas e abióticas, como a presença de alimento, hospedeiro e inimigos naturais, além das variáveis climáticas favoráveis ao desenvolvimento da prole.
Em algumas espécies, os machos possuem o comportamento de corte, que é o comportamento de chamar a atenção da fêmea para que ela o selecione entre todos os machos que foram atraídos pelo feromônio sexual. Algumas espécies dançam para chamar a atenção da fêmea, enquanto outras captam substâncias de plantas e as oferecem para a fêmea como presente nupcial, sendo que essas substâncias podem possuir potencial de proteger os ovos de inimigos naturais.
Os machos, frequentemente, possuem antenas maiores e ornamentadas para perceber o feromônio no ambiente, uma vez que esse odor atrativo liberado pelas fêmeas, pode percorrer longas distâncias devido a sua alta persistência no ambiente. Contudo, existem feromônios que não conseguem atingir longas distâncias e normalmente ocorrem em insetos diurnos que além do olfato, também usam a visão para encontrar o parceiro sexual.
Cada espécie de inseto usa componentes e concentrações específicas no feromônio, assim, o macho de uma espécie de inseto não será atraído pelo odor da fêmea de outra espécie. Além do horário de recepção, o local de emissão do feromônio e até mesmo a altura que o inseto está na planta, também diferem entre as espécies. No caso do bicho-furão-dos-citros já se sabe que a liberação do feromônio sexual ocorre a determinada altura na planta.
Os besouros, além do feromônio sexual liberam também o feromônio de agregação, com o propósito de atrair indivíduos de ambos os sexos para alimentação ou acasalamento. Temos como exemplo o besouro Dendroctonus brevicomis (Scolytinae), que após liberar o feromônio de agregação atrai muitos indivíduos e juntos conseguem vencer a defesa de ataque de uma árvore e colonizá-la. Após a colonização da árvore hospedeira, esses besouros se acasalam e produzem feromônio antiagregação, para repelir outros indivíduos para aquela árvore e evitar competição.
Os feromônios são substâncias importantes na comunicação dos insetos e podemos usar a resposta comportamental deles a esses feromônios para o desenvolvimento de métodos de controle para aqueles insetos que causam danos econômicos nas culturas agrícolas e para determinar o momento de controle.
Os feromônios mais utilizados são os sexuais utilizados como iscas atrativas em armadilhas para coletar machos, mas também pode ocorrer a utilização de feromônios de agregação que atraem ambos os sexos. As armadilhas podem ser usadas de forma preventiva, para o monitoramento, acompanhando o nível populacional do inseto, além de ser utilizada como método de controle para reduzir a população do inseto quando está alta e pode causar danos econômicos à cultura. Estas armadilhas são muito utilizadas em aeroportos e portos para controle de entrada de novos insetos com potencial de dano a culturas agrícolas do país.
Existem diferentes métodos de controle utilizando feromônios. O primeiro deles, é a Coleta Massal, nesse caso é usado tanto o feromônio sexual quanto o de agregação, sendo este último mais indicado porque atrai ambos os sexos para serem capturados pelas armadilhas.
Muitas armadilhas são utilizadas com o objetivo de capturar o maior número possível de indivíduos, diminuir os danos à cultura e reduzir a densidade populacional das próximas gerações. Muito usado para coleta de espécies que habitam locais onde os inseticidas não têm acesso, como dentro da madeira para controle de brocas, por exemplo.
O segundo método de controle é o chamado Atrai e Mata e tem como objetivo atrair os insetos para as armadilhas contendo isca atrativa de feromônio e inseticida, fazendo com que os insetos coletados não consigam fugir.
O terceiro método de controle, é chamado de Confusão Sexual, onde são aplicadas altas doses de feromônio sexual, ocorrendo a competição química entre o feromônio sintético e o natural, de forma a sobrepor o feromônio natural liberado pelas fêmeas e, assim os machos não as encontram, reduzindo consequentemente a reprodução.
A resposta dos insetos aos feromônios dos insetos nas armadilhas depende de uma série de fatores, como o modelo da armadilha (adesiva, interceptação de voo), cor, altura em relação a vegetação, densidade, formulação do feromônio e quantidade, taxa de duração da emissão do feromônio, tipo do dispersor, taxa de liberação do feromônio e concentração. Além de fatores abióticos como temperatura, umidade, velocidade e direção do vento.
O uso dos feromônios gera muitas vantagens, principalmente para o controle de pragas como: redução no uso de inseticidas, não são tóxicos aos mamíferos e inimigos naturais do inseto-praga, são ideais para o controle de insetos crípticos, são eficientes mesmo em baixas densidades da praga e mantém o equilíbrio das populações de insetos no meio ambiente.
Esperamos que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre os feromônios dos insetos. Com esse conhecimento, podemos manipular o comportamento de insetos nocivos, monitorar populações em campo, detectar espécies crípticas e controlar insetos-pragas. Na próxima edição vamos abordar as principais defesas de plantas contra insetos.
GULLAN, P. J.; CRANSTON, P. S. Os Insetos: Um Resumo de Entomologia. 4º ed São Paulo: Roca, 2012.
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