Maior presença do inseto nos cultivos aumenta a rentabilidade em até 30%.
Após um ano com equipamentos parados em um galpão da sua fazenda, Acácio Cordeiro, um produtor de café da Chapada Diamantina (BA) notou que abelhas haviam feito uma colmeia no maquinário abandonado. Ele então decidiu iniciar um experimento de que ouvira falar e cuidadosamente retirou a colmeia, realocando os favos dentro de uma caixa para apicultura. O produtor instalou a caixa a cerca de 10 metros de seu cafezal. Com a abelha rainha, criou outras quatro caixas ninho, e o sistema experimental passou a atingir seu propósito: aumentar a rentabilidade no plantio do café.
A história de Acácio Cordeiro e seu pai, Nelson Cordeiro, produtores de café orgânico na Fazenda Florestal, se assemelha a de outros 30 produtores que participam do estudo com abelhas na Bahia. Os resultados das pesquisas mostram que a presença de mais abelhas nos cultivos de café aumentam a rentabilidade em até 30%.
Pequenas operárias
A maioria das plantas silvestres e cultivadas depende em algum grau de polinizadores, ou seja, de animais capazes de realizar a transferência de grãos de pólen entre diferentes flores. Esse processo, denominado de polinização, é que garante a produção de frutos e sementes.
O café é uma cultura que tem dependência parcial de vetores de pólen, pois as suas flores também podem ser autopolinizadas. Contudo, os estudos na Chapada Diamantina, conduzidos pela pesquisadora Blandina Viana, da Universidade Federal da Bahia (UFB), sinalizam que uma única visita da abelha Apis mellifera – ou abelha africanizada – nas flores do café, já é suficiente para produzir frutos mais pesados e com tamanhos mais homogêneos. “Já as flores não visitadas, apesar de serem capazes de produzir frutos através da autopolinização, geram frutos menores, com tamanhos variados, diminuindo a produtividade”, afirma a pesquisadora.
O experimento com a população extra de abelhas já completa três anos na Fazenda Florestal, e agora deve ganhar mais investimento. “Nestes primeiros anos usamos apenas as quatro caixas de apicultura, mas já deu para perceber uma padronização dos frutos e diminuição dos grãos menores. Agora queremos inserir pelo menos mais 20 caixas ninho”, conta Acácio. Além do aumento na qualidade dos grãos, o produtor viu na apicultura uma outra forma de rentabilidade para seu negócio. “Cada colmeia produz 8kg de mel”, completa o produtor.
Atraindo boas práticas
Para produtores interessados em fazer associação entre cultivo de café e abelhas, o processo pode ser como o da Fazenda Florestal, com animais nativos, ou com a introdução de espécies manejadas. “Em ambientes que preservam a biodiversidade, há maior diversidade de recursos alimentares, garantindo a sobrevivência de populações de várias espécies de abelhas. Porém, em áreas isoladas, com grandes extensões de áreas cultivadas, a introdução das abelhas manejadas é recomendável,” conclui Blandina Viana.
Práticas de baixo impacto ao ambiente, como sistemas agroflorestais, manejo integrado de pragas, redução do uso de agrotóxicos e manutenção de áreas naturais no entorno dos cultivos, além de favorecerem a manutenção de maior número de espécies de abelhas, também proporcionam maior rendimento dos cafezais. Manejadas ou nativas, a união entre cultivo de café e abelhas está se mostrando altamente positiva para a produção agrícola e para a biodiversidade.
Clique aqui para ler a matéria de Ricardo Campo sobre o Sou de Algodão no Plant Project.
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