Texto escrito em parceria com Marcelo Mueller de Freitas, Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Entomologia Agrícola pela Unesp/FCAV. Atualmente desenvolve pesquisas voltadas para o manejo microbiológico de pragas e é sócio administrador da página @mipemfoco. Pragas de solo Que os artrópodes-pragas […]
Que os artrópodes-pragas são um importante componente em cultivos de interesse econômico não é nenhuma novidade. Entretanto, a dinâmica de ocorrência e o nível populacional destas pragas de solo tem alterado significativamente ao longo do tempo, influenciada pela combinação de três fatores:
No Brasil, o sistema de cultivo milho e/ou algodão em sucessão à soja são os mais utilizados em áreas de produção de grãos, uma vez que o ciclo destas culturas é compatível com as janelas de cultivo de primeira e segunda safras. Além disso, há a possibilidade de cultivo de algodão em primeira safra. O cultivo em terceira safra também pode ocorrer em áreas irrigadas com pivot.
Esses cultivos em sucessão no tempo e de forma simultânea no espaço possibilitam o que ficou conhecido como “ponte verde”, em que há presença constante de plantas hospedeiras das principais pragas no solo.
Por este motivo, os sistemas de produção têm moldado a maneira como se maneja as pragas atualmente, uma vez que favorecem pragas polífagas, que possuem a habilidade de transitar e se estabelecer nesse agroecossistema soja-milho-algodão.
Portanto, o manejo de praga de solo que antes era realizado por cultura, tem sido substituído pelo manejo no sistema de cultivo, levando-se em consideração as culturas que compõem este sistema.
Embora diversas sejam as pragas que atacam o solo, ou seja, as raízes e plântulas nas culturas, duas delas têm se destacado nos últimos anos pelas infestações frequentes no sistema soja-milho-algodão: Percevejo-castanho e lagarta elasmo.
O percevejo castanho Scaptocoris spp., também conhecido como percevejo castanho da raiz, é amplamente distribuído no Brasil e tem sido relatado atacando diversas culturas. Este inseto tem hábito subterrâneo e tanto as ninfas quanto os adultos se alimentam das plantas através da sucção das raízes, causando danos acentuados.
Estes insetos apresentam duas gerações por ano e sua ocorrência está relacionada à umidade do solo, uma vez que em períodos de estiagem, procuram camadas mais profundas do solo, onde há maior umidade.
No entanto, nos períodos chuvosos os insetos se concentram na camada superficial do solo e a intensidade de ataques às raízes é maior.
Em áreas com alta infestação do percevejo castanho, podem ser observadas reboleiras com diversos tamanhos, com plantas subdesenvolvidas e amareladas, enquanto, em locais com baixa infestação a sua ocorrência pode não ser detectada, embora reduções no desenvolvimento das plantas possam impactar na produção.
Na cultura da soja o momento crítico é na emergência das plantas, no entanto, os insetos podem estar mais profundos no solo dependendo da época de plantio.
Já o milho e algodão, normalmente cultivados nos períodos entre dezembro/janeiro e janeiro/março, respectivamente, há maior possibilidade de ataque na emergência e pós-emergência, já que há maior umidade no solo e, portanto, os insetos tendem a permanecer na superfície próximo às raízes das plantas e em maior densidade populacional.
O primeiro passo para o monitoramento do percevejo castanho passa pelo conhecimento do histórico da área, levando-se em consideração o sistema de produção, já que ambas as culturas hospedam esta praga e podem favorecer sua ocorrência e estabelecimento durante o ano todo.
Portanto, o planejamento e a escolha dos métodos de controle devem começar na safra anterior, com o mapeamento de áreas com sintomas de danos.
Amostragens de solo devem ser realizadas previamente à semeadura da próxima cultura para análise de solo, com o objetivo de identificar possíveis pragas presentes na área, níveis populacionais e estágio de desenvolvimento.
É indicado que a amostragem seja feita por meio de trincheiras com dimensões de 25 x 30 x 50 cm em períodos chuvosos para detectar as pragas na parte mais superficial do solo. A partir dessas amostragens é possível então, realizar a tomada de decisão para o uso dos métodos de controle disponíveis.
O hábito subterrâneo do percevejo castanho torna-o uma praga de difícil controle. Embora medidas culturais como revolvimento do solo através de aração seguida de gradagem ou subsolagem, sejam estratégias que podem auxiliar na redução da população, estas se mostram pouco eficazes, em função dos insetos se alimentarem de diversas plantas hospedeiras e se distribuírem ao longo do perfil do solo em profundidades de até 1,20 m.
Outra medida cultural que pode ser utilizada em áreas muito infestadas é realizar o pousio, mantendo o solo sem cobertura vegetal durante o outono, sem o cultivo de segunda safra, como estratégia de eliminar o alimento disponível.
Apesar de serem estratégias que auxiliam na redução da população, não eliminam a praga totalmente e, não são compatíveis com as práticas de plantio direto. Portanto, cada caso deve ser analisado individualmente e estes fatores sempre devem ser levados em consideração para a tomada de decisão.
Para realizar o cultivo em áreas infestadas, adotar medidas como semeadura antecipada e manter o solo em condições nutricionais adequadas para possibilitar o desenvolvimento rápido das plantas, pode contribuir para reduzir os impactos causados pelo ataque da praga no sistema radicular nas fases iniciais da cultura. Em decorrência da diversidade de culturas hospedeiras da praga a rotação de culturas não é um método eficaz.
Tanto o controle químico como biológico têm se mostrado pouco efetivos para o controle dessa praga, uma vez que os resultados de manejo com essas táticas de controle oscilam muito quanto à eficiência.
A lagarta elasmo, Elasmopalpus lignosellus, também conhecida como broca do colo, está presente em todas as áreas de cultivo no Brasil e é praga de diversas culturas e plantas silvestres gramíneas e leguminosas.
Embora esta praga tenha hábito de se alimentar da parte aérea das plantas, o estágio de pupa acontece no solo e as injúrias causadas às plantas normalmente também ocorrem ao nível do solo. Além disso, a mariposa possui o hábito de realizar a postura dos ovos no solo próximo ao caule da planta.
A ocorrência da lagarta elasmo está diretamente relacionada ao tipo de solo e condições climáticas, sendo comum surtos populacionais em áreas de solo arenoso e em anos em que a pluviosidade é menor, principalmente nas fases iniciais das lavouras.
Entretanto, dependendo da severidade da estiagem, esta praga pode atacar a cultura em qualquer tipo de solo. Além da soja, a lagarta elasmo ocorre também em milho e algodão, principalmente se houver períodos de estiagem na ocasião da semeadura e emergência.
As lagartas pequenas alimentam-se inicialmente do tecido vegetal e, à medida que se desenvolvem, penetram na planta na altura do colo, onde abrem um orifício e constroem uma galeria ascendente no interior do caule. Quando o ataque ocorre no início de desenvolvimento, há a murcha dos ponteiros e as plantas geralmente morrem dentro de poucos dias, ocasionando falhas no estande.
As características de ataque assim como os sintomas, são semelhantes nas três culturas, entretanto, os cultivos em segunda safra tendem a ter menores problemas com esta praga de solo, uma vez que este período é caracterizado por alta pluviosidade, fator abiótico que mais influencia negativamente o desenvolvimento e sobrevivência da lagarta elasmo, principalmente nos primeiros ínstares larvais.
Para o monitoramento de insetos de uma maneira geral, podem ser empregadas diferentes técnicas de amostragens.
No caso da lagarta elasmo, embora existam algumas técnicas de monitoramento como, uso de mariposas presas em gaiolas, feromônios e contagem do número de plantas atacadas, de modo geral, estas técnicas demonstram baixa eficiência para a amostragem dessa praga.
Portanto, na prática, a tomada de decisão tem sido através da análise conjunta de diversas informações, tais como histórico de ocorrência na área, fatores edafoclimáticos favoráveis, presença de inimigos naturais e o sistema de cultivo da área.
Em locais com alta incidência do inseto, o uso de inseticidas na dessecação pré-semeadura pode auxiliar a reduzir a densidade populacional na ocasião do plantio da cultura.
O controle da lagarta-elasmo também pode ser realizado através do tratamento de sementes com inseticidas que apresentam ação sistêmica. A aplicação pode ocorrer no sulco de semeadura, no entanto, é uma prática pouco adotada.
Outra forma, é a pulverização na parte aérea com produtos de ação em profundidade, se possível no período da noite, devido ao hábito da praga de solo. O uso da soja Bt em áreas com histórico de ocorrência da praga pode ser uma alternativa, já que a soja Bt exerce controle satisfatório sobre a lagarta elasmo.
O avanço nas técnicas de cultivo somado às características bioecológicas das pragas de solo, têm ocasionado mudanças significativas no que diz respeito à ocorrência e dinâmica populacional destas pragas nas áreas de produção.
Essas mudanças, necessariamente direcionam a maneira como deve ser realizado o manejo de pragas de solo de acordo com os sistemas de cultivo.
Embora seja um grande desafio, o manejo de pragas no sistema soja-milho-algodão, é completamente possível de ser realizado quando baseado nos princípios do manejo integrado de pragas (MIP). De fato, isso só reafirma que manejo sustentável de pragas a longo prazo só é possível quando utilizado de acordo com os preceitos do MIP.
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