Bagaço de cana: saiba como reaproveitar a palha
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Bagaço de cana: saiba como reaproveitar a palha

7 min de leitura

Durante a cadeia produtiva da cana-de-açúcar são gerados inúmeros subprodutos, entre eles a palha ou palhiço e o bagaço. O palhiço compreende todo o material remanescente sobre a superfície do talhão após a colheita da cana, principalmente a mecanizada, constituída […]

por Syngenta Digital
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Bagaço de cana: saiba como reaproveitar a palha
bagaço de cana de açúcar

Durante a cadeia produtiva da cana-de-açúcar são gerados inúmeros subprodutos, entre eles a palha ou palhiço e o bagaço.

O palhiço compreende todo o material remanescente sobre a superfície do talhão após a colheita da cana, principalmente a mecanizada, constituída de folhas verdes, palhas, ponteiros, colmos, raízes, ervas daninhas e/ou partículas de terra aderidas a ela.

Já o bagaço é resultante do processo de extração do caldo da cana. Ambos são constituídos por celulose, hemicelulose e lignina, dentre outros constituintes.

Neste artigo, você vai entender como pode reaproveitar o bagaço e a palha da cana-de-açúcar. Vamos lá?

Por que utilizar o bagaço de cana e a palha?

Até alguns anos atrás, o bagaço de cana e a palha eram subaproveitados. Parte era queimado em caldeiras para geração de energia e a palha ficava no campo. Mas esse cenário mudou nos últimos anos e o subproduto agroindustrial ganhou valor econômico e ambiental.

Hoje, essas matérias são utilizadas para fins como:

  • Produção de papel;
  • Carvão vegetal ;
  • Composição de massa asfáltica;
  • Produção de pellets (biocombustível que usa como matéria-prima resíduos como a serragem ou maravalha).

O Brasil já tem instalado duas fábricas que produzem etanol a partir do bagaço e palha de cana nos estados de Alagoas e São Paulo. Abrindo um novo mercado, as usinas sucroenergéticas já estão empregando o bagaço e a palha de cana para fabricação de pellets, que podem servir como carvão para churrasqueiras e lareiras, como material combustível para alimentar caldeiras em fábricas e geradores de energia elétrica.

A vantagem da utilização destes pellets vai desde o fato de ocuparem pouco espaço, pois o bagaço ou palha passam um processo de secagem e pressão, até o fato de serem obtidos de matéria vegetal renovável, substituindo o carvão e outras fontes poluidoras.

Quais as funções do bagaço?

A utilização de bagaço de cana para produção de papel não é novidade. Já existe há mais de 60 anos! Atualmente, várias empresas internacionais utilizam essa matéria-prima para produção de diversos tipos de papel, inclusive o sulfite. Em 2017, por exemplo, foi instalada na cidade de Lençóis Paulista (SP) a primeira fábrica do Brasil a produzir matéria-prima para o papel a partir da palha da cana-de-açúcar.

De acordo com a empresa, todo o processo produtivo que envolve a obtenção da pasta base para produção do papel é sustentável, sem emissão de poluentes e os produtos obtidos são biodegradáveis.

Também está sendo testada no Brasil uma nova tecnologia que emprega o bagaço de cana como um aditivo estabilizante para produção de mistura de asfalto, do tipo SMA (Stone Matrix Asphalt).

Um grupo de pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Grande Rio (Unigranrio), desenvolveram um tipo de SMA que utiliza o bagaço em sua composição, reduzindo os custos de produção deste tipo de mistura asfáltica, já que as fibras normalmente empregadas para produção SMA têm custo mais alto quando comparadas às fibra do bagaço de cana.

O laboratório Nacional de Tecnologia, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNNano/CNPEM) começou a testar o bagaço de cana para produção de carvão vegetal. A nova tecnologia pode ser uma revolução na fabricação de filtros (de água e de ar) no Brasil e no mundo, uma vez que o carvão vegetal obtido do bagaço e da palha de cana possuem a mesma eficiência do utilizado tradicionalmente.

Qual é a relação da cana-de-açúcar com a geração de energia?

O Brasil necessita da cogeração a partir da cana-de-açúcar. O setor sucroenergético é responsável por 80% da capacidade de geração de energia a partir de biomassa do país. Porém, esses valores podem ser aumentados, pois resta ainda muito bagaço excedente, além do potencial de uso da palha, uma vez que poucas unidades industriais recolhem a palha do campo.

A energia gerada nas usinas a partir do bagaço e da palha da cana contribui em termos de capacidade instalada, em quase 10% da matriz energética, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), ocupando a segunda posição na matriz, atrás apenas das fontes hídrica e fóssil, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

Assim, toda a biomassa responsável pela geração de energia elétrica e térmica – bagaço e palhiço – passa a ser de fundamental importância aos novos projetos e também nas ampliações das plantas existentes.

Além da importância para geração de energia elétrica, tanto o bagaço quanto a palha podem ser utilizados também como matéria-prima para produção de etanol de segunda geração (2G) e de terceira geração (3G).

Por meio da hidrólise química ou enzimática, as frações de celulose e hemicelulose são convertidas a hexoses e pentoses e após processos de pré tratamento, a solução obtida pode ser fermentada e produzir etanol.

O bagaço de cana tem valor comercial?

Mesmo após queimado, o bagaço de cana ainda tem valor comercial. As cinzas recolhidas das caldeiras é um rico composto utilizado na lavoura como insumo completar a adubação da cana ou como aditivo para produção de tijolos, fabricação de produtos como telhas, caixas d’água e divisórias.

Porém, existe ainda um grande gargalo que precisa ser corrigido. Atualmente o produtor não recebe pelo bagaço entregue na usina. Inúmeros estudos têm sido feitos para tentar remunerar o produtor de cana pelo bagaço entregue, mais nada ainda em fase de implantação.

Curiosidades sobre o bagaço da cana-de-açúcar

  • Estima-se que, para cada tonelada de cana-de-açúcar processada, 260 quilos são transformados em bagaço. Para palha, este valor está condicionado a variedade e estágio de corte, podendo gerar entre 10 a 15 toneladas de matéria seca por hectare de cana-de-açúcar, com teor de umidade de 10%.
  • A massa asfáltica SMA foi desenvolvida na Alemanha no final da década de 1960, sendo composta de fibras de celulose ou de vidro. Sua principal característica é a grande resistência, sendo utilizada como revestimento de rodovias e aeroportos europeus e americanos.
  • O carvão vegetal produzido a partir do bagaço tem custo inferior em até 20%, quando comparado ao carvão disponível no país, que geralmente é importado e proveniente de madeira, ossos de animais e/ou casca de coco. Por isso, a nova tecnologia torna o país mais autônomo na produção dessa matéria-prima, sem dependências de preços e flutuações de mercados internacionais.
  • Além de eletricidade, o bagaço da cana-de-açúcar também pode ser utilizado na co-geração de energia térmica. O calor gerado durante o processo de queima é aproveitado para aquecer caldeiras, produzindo vapor utilizado em diversos processos industriais.
  • O bagaço também pode ser utilizado na produção de etanol de segunda geração, também conhecido como etanol celulósico. Nesse processo, as fibras do bagaço são quebradas em açúcares fermentáveis e transformadas em etanol. Isso aumenta a eficiência da produção de etanol a partir da cana-de-açúcar.
  • O bagaço da cana-de-açúcar pode ser utilizado na alimentação animal, principalmente como suplemento na dieta de bovinos e outros ruminantes. Ele é rico em fibras e pode fornecer energia para os animais.

Como você viu, essas são apenas algumas curiosidades sobre o bagaço e a palha da cana-de-açúcar. Esse resíduo tem um potencial significativo como fonte de energia e matéria-prima em diversas aplicações, contribuindo para a sustentabilidade e a economia. E se quiser saber mais sobre a cana-de-açúcar, basta conferir nosso artigo sobre agricultura de precisão nos canaviais.

Texto: Osania Ferreira

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