Texto escrito em parceria entre Maria Antonia Machado Barbosa, Engenheira Agrônoma, Doutoranda em Fitotecnia pela UFV e mestre em Fisiologia Vegetal pela mesma Universidade. Atualmente conduz pesquisas sobre a fisiologia e o manejo cultural da macaúba. E também por Leonardo Duarte Pimentel, […]
Texto escrito em parceria entre Maria Antonia Machado Barbosa, Engenheira Agrônoma, Doutoranda em Fitotecnia pela UFV e mestre em Fisiologia Vegetal pela mesma Universidade. Atualmente conduz pesquisas sobre a fisiologia e o manejo cultural da macaúba. E também por Leonardo Duarte Pimentel, Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia pela UFV e Professor efetivo no Departamento de Agronomia da UFV. Atualmente conduz pesquisas visando o desenvolvimento da cadeia produtiva da macaúba.
A implantação de sistemas de produção sustentáveis tem se tornado cada vez mais importante para melhorar a sustentabilidade dos cultivos agrícolas, especialmente com a incorporação de práticas ambientais.
A macaúba hoje é eleita como alternativa potencial para fins energéticos, alimentar, ambiental e social, graças a sua versatilidade de uso tanto dos frutos como da própria palmeira.
Ecologicamente, a macaúba é importante como fonte de alimento para a fauna regional que ajuda na dispersão de suas sementes para áreas degradadas. Soma-se a isso, o fato de ser uma planta rústica e de boa adaptação à ambientes mais extremos.
Logo, a introdução da macaúba em cultivos solteiros ou associados à outras culturas em áreas marginais como, pastagem degradadas e áreas de morro, tem sido proposta em projetos de recuperação ambiental, além da possibilidade de utilização dessas áreas não utilizáveis em outros cultivos.
O cultivo de espécies florestais associadas à pastagem e/ou cultivos agrícolas, tem sido indicado como potencial para recuperação e renovação de pastagens, permitindo a diversificação da produção, com ganhos ambientais.
Ao considerar sua ampla ocorrência natural em áreas de pastagens, a macaúba tem sido vista como potencial para composição de Sistemas Agroflorestais (SAF’s), permitindo integrar seu cultivo com a pastagem e a criação de animais e, também, com a produção agrícola.
Em sistemas silvipastoris e agrosilvopastoris, a macaúba é introduzida como componente arbóreo, sendo cultivada em associação com culturas agrícolas e/ou pastagem
A macaúba, por ser uma palmeira, é especialmente indicada para compor esses sistemas, pois a arquitetura da sua copa permite baixo nível de sombreamento no sub-bosque, contribuindo para o desenvolvimento ideal das lavouras e pastos.
Quando consorciada com pastagem, a macaúba proporciona melhorias na ambiência quanto aos fatores temperatura e luz, quando se considera o bem-estar animal.
Além disso, a macaúba ajuda na recuperação de áreas degradadas, como encostas de morro, devido ao aporte de resíduos no solo, aumentando a vida útil das pastagens e minimizando os impactos da pecuária no ambiente.
Quando a macaúba é consorciada com pasto ou lavoura, proporciona a exploração de diversos outros produtos, tais como a produção de grãos, frutos e a apicultura, diversificando ainda mais a produção na fazenda.
Outro ponto relevante, é que em consórcios com culturas agrícolas, há um aproveitamento residual da adubação feita na lavoura pela macaúba, o que leva a redução de gastos por insumos na propriedade.
Em Sistema de consórcio macaúba + cafeeiro, a presença da macaúba altera o microclima do cafezal, com redução na temperatura do ar e níveis de radiação e maior manutenção da umidade do solo. Para esse exemplo de SAF, a produção do cafeeiro foi beneficiada e a produtividade do sistema como um todo, devido o melhor aproveitamento dos recursos e da área
A presença da macaúba em sistemas que visam a recuperação de pastagens degradadas, proporciona um maior aporte de resíduos no solo, favorecendo o balanço de carbono na área.
Quando a área está ocupada somente por animais e pastagem, o balanço de carbono provavelmente será negativo. Em contrapartida, com a inserção da macaúba no sistema, o balanço torna-se praticamente nulo, havendo menor liberação de gás carbônico (CO2) na atmosfera.
Em cultivos solteiros de macaúba, a taxa de emissão de CO2 é menor quando comparada a área de somente pastagem. Esse benefício é ainda maior em sistemas envolvendo o consórcio da macaúba + pastagem com baixa densidade, devido a maior deposição de matéria orgânica propiciada pela macaúba, por meio de resíduos vegetais devolvidos ao solo.
A macaúba tem potencial de acúmulo total de carbono de 154 kg.
Isso representa um potencial de estoque de carbono na ordem de 62 t C ha-1 – valor superior ao encontrado para a palma africana (42 t C ha-1) – sugerindo que plantios em larga escala, tem grande potencial para geração de créditos de carbono.
Em outras palavras, além do potencial uso dos frutos de macaúba para produção de óleos e bioenergia, o cultivo dessa palmeira tende a agregar outros valores ao empreendimento com a venda de créditos de carbono.
Se pensarmos que o processo de degradação de pastagens, envolve também alguns impactos negativos nos processos hidrológicos como, infiltração de água no solo e recarga dos lençóis freáticos, é importante a adoção de sistemas que prioriza a conservação da água e do solo.
Os atributos positivos da macaúba não param por aí. A própria presença dessa palmeira em áreas de cultivo, pode melhorar os aspectos hidrológicos do sistema, uma vez que possui eficiência na retenção de água das chuvas.
Com uma copa em formato de funil e folíolos que funcionam como pequenas calhas, a água das chuvas é escoada diretamente para o estipe. A presença de espinhos e pelos foliares aumenta a área de superfície de captação de água, mantendo a umidade e a temperatura microclimática. Além disso, um emaranhado de fibras é observado no estipe junto às bainhas das folhas, que atuam também na retenção de água pela planta.
Outro ponto relevante é que, com um sistema radicular fasciculado que atua como uma esponja, a água escoada pelo estipe é absorvida, favorecendo tanto o armazenamento de água pela planta, quanto a infiltração no solo.
Dessa forma, a macaúba possui um perfil bastante desejável dentro dos processos hidrológicos, por ser uma espécie perene com morfologia que favorece o escoamento de água da chuva pelo tronco ou estirpe, diminuindo a energia cinética da água. Portanto, o cultivo da macaúba em consórcio com pasto pode trazer ganhos ambientais, diminuindo a quantidade de água escoada pela superfície do solo.
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