Aproximadamente 30 espécies de moscas brancas e moscas negras (Hemiptera, Aleyrodidae) são reportadas em plantas cítricas no mundo, amplamente distribuídas geograficamente, sobrevivendo em um grande número de plantas silvestres e ornamentais. É mosca demais! A mosca-negra-dos-citros Aleurocanthus woglumi Ashby (Aleyrodidae) […]
Aproximadamente 30 espécies de moscas brancas e moscas negras (Hemiptera, Aleyrodidae) são reportadas em plantas cítricas no mundo, amplamente distribuídas geograficamente, sobrevivendo em um grande número de plantas silvestres e ornamentais. É mosca demais!
A mosca-negra-dos-citros Aleurocanthus woglumi Ashby (Aleyrodidae) é originária das regiões tropicais e subtropicais da Ásia, com disseminação para a África, Américas do Norte, Central e do Sul, Caribe e Oceania. Foi descoberta pela primeira vez no Hemisfério Ocidental na Jamaica (1913), depois em Cuba (1916), México (1935), Venezuela (1965) e Guiana Francesa (1995).
A mosca-negra-dos-citros foi encontrada pela primeira vez no Brasil, em julho de 2001, em Belém (PA) e já foi registrada nos estados do Maranhão (2003), Amazonas (2004), Amapá (2006), Tocantins, Goiás e São Paulo (2008), Roraima (2009), Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí, Bahia, Ceará, Minas Gerais (2010), Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo (2011).
Aleurocanthus woglumi foi detectada pela primeira vez no estado de São Paulo, em março de 2008, infestando severamente laranjeiras, tangerineiras e limoeiros na região de Artur Nogueira, se dispersou para a região norte e noroeste paulista, alcançando níveis severos de ataque e danos.
A praga infesta mais de 300 espécies de plantas em todo o mundo, sendo espécies cítricas aquelas mais afetadas pela praga, incluindo laranjeiras, tangerineiras e limoeiros, sendo indicadoras de sua introdução nas regiões recém infestadas.
Em algumas regiões do Brasil, jaqueiras e mangueiras (principalmente Palmer) são severamente infestadas pela mosca-negra. Adultos de A. woglumi podem ser encontrados em um grande número de espécies botânicas, no interior ou nos arredores de pomares de citros infestados, como por exemplo em plantas espontâneas ou de mandioca, mas sem apresentar posturas ou ninfas.
Os danos diretos são causados pela sucção contínua de nutrientes das folhas e consequente declínio no vigor das plantas. Os danos indiretos são oriundos do aparecimento da fumagina sobre as folhas, ramos e frutos. A fumagina se forma pelo crescimento de fungos sobre a excreção açucarada da mosca-negra-dos-citros, que afeta a respiração e a fotossíntese. A incidência da fumagina também atinge a qualidade dos frutos para comercialização in natura, que necessitam de lavagem intensiva durante o processamento no packing house.
Enquadrada como praga quarentenária presente (A2) no Brasil, a incidência da mosca-negra-dos-citros também causa restrições na comercialização de plantas hospedeiras e suas partes, oriundas de estados infestados e destinados a estados ainda sem registro dessa espécie, exigindo certificação da área de produção e declaração de partida livre da praga.
Os adultos de A. woglumi são de coloração cinza-escuro e medem de 0,99mm a 1,24mm, sendo as fêmeas maiores que os machos. A mosca-negra-dos-citros realiza postura em forma espiral na superfície inferior das folhas desenvolvidas, com média de 28 ovos por postura (8-50 ovos), de coloração inicial amarelo-alaranjado. O ciclo de ovo a adulto é de 45 a 133 dias. Fêmeas e machos são alados e se alimentam em brotações.
Inimigos naturais
Os inimigos naturais são importantes componentes do Manejo Integrado da mosca-negra-dos-citros. Já a partir de 2002, a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Campus Belém-PA, começou estudos de levantamento sobre a entomofauna de inimigos naturais.
Nos municípios paraenses de Belém, Santo Antônio do Tauá, Santa Isabel, Ourém, Capitão Poço e Irituia, com maior riqueza de espécies, foram registradas 11 espécies predadoras conhecidas como crisopídeos (Neuroptera): Ceraeochrysa acmon, Ceraeochrysa caligata, Ceraeochrysa cincta, Ceraeochrysa claveri, Ceraeochrysa cubana, Ceraeochrysa dislepis, Ceraeochrysa dolichosvela e Ceraeochrysa everes, Leucochrysa amazonica, Leucochrysa camposi, e Chrysopodes sp. Ceraeochrysa caligata, C. everes e L. amazonica foram os mais eficientes predadores de A. woglumi. Também foram registrados os predadores Ocyptamus gastrostactus (Syrphidae) e a joaninha Delphastus pusillus (Coccinelidae).
Cerca de 15 mil ovos/dia de C. everes estão sendo produzidos no Instituto Agronômico de Pernambuco, IPA, em Recife-PE, e larvas de segundo instar deste predador são liberadas em vários municípios do estado. Todavia, com a ocorrência de predação desses ovos por formigas, aranhas e outros artrópodes, se iniciaram liberações inundativas de larvas de segundo instar de C. everes.
Adultos da joaninha D. pusillus, por sua vez, predam em média, 14,6 ovos de A. woglumi por dia, chegando a um máximo de 18 ovos. As larvas de D. pusillus, assim como os adultos, também são excelentes predadores de A. woglumi, principalmente de seus ovos, além de serem mais específicos que os crisopídeos. Larvas de 3º instar de D. pusillus predam 22 ovos por dia e mais de 473 ovos durante todo o período larval. A agilidade de suas larvas permite alcançar e predar, também, adultos da mosca-negra-dos-citros.
Os parasitoides Cales noacki e Encarsia sp. foram detectados parasitando ninfas de A. woglumi, em Belém, Capitão Poço e Irituia. Cales noacki é mais eficiente em alta densidade da mosca-negra-dos-citros e a taxa de parasitismo de Encarsia sp. independentemente da densidade da praga.
Encontrado em vários estados brasileiros, o fungo entomopatogênico Aschersonia aleyrodis ataca ninfas da mosca-negra-dos-citros e tem aspecto alaranjado. Em São Paulo, A. aleyrodis é um inimigo natural chave, largamente encontrado em pomares de citros com reduzida aplicação de fungicidas, tem sido registrado em todos os meses do ano.
Outro fungo encontrado em ninfas de A. woglumi na parte mais interna e inferior da copa das plantas cítricas é o fungo marrom-avermelhado Aegerita webberi, que parece ser mais sensível à aplicação de fungicidas.
Fonte: Grupo Cultivar
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