Conhecendo os nematoides: tudo sobre o Meloidogyne
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Conhecendo os nematoides: tudo sobre o Meloidogyne

7 min de leitura

Uma grande diversidade de gêneros e espécies de nematoides são mundialmente reconhecidos como grandes causadores de danos às culturas agrícolas. Dentre os nematoides considerados de maior importância, os do gênero Meloidogyne tem grande destaque. Nematoides de galha, como são conhecidos, […]

por Giovanna Vallin
05 de novembro de 2021
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Conhecendo os nematoides: tudo sobre o Meloidogyne
Sintoma de galhas causado por Meloidogyne javanica em raízes de soja

Uma grande diversidade de gêneros e espécies de nematoides são mundialmente reconhecidos como grandes causadores de danos às culturas agrícolas.

Dentre os nematoides considerados de maior importância, os do gênero Meloidogyne tem grande destaque. Nematoides de galha, como são conhecidos, recebem esse nome devido à formação típica de galhas nas raízes das plantas infectadas.

A formação das galhas, que se assemelham a tumores, é resultante de uma interação fisiológica entre substâncias produzidas pelo nematoide e as células do tecido radicular.

Neste artigo, vamos mostrar as principais espécies de Meloidogyne no Brasil, como ocorre a interação com a planta, entre outras informações importantes. Acompanhe!

Quais são as principais espécies de Meloidogyne no Brasil?

Mais de 100 espécies de Meloidogyne já foram descritas no mundo todo, parasitando uma grande variedade de plantas. No Brasil, várias espécies já foram relatadas, mas algumas se destacam pela maior frequência em que são encontradas.

As espécies mais comuns em grandes culturas são Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica, mas também há Meloidogyne enterolobii, muito comum em olerícolas e goiabeira; Meloidogyne exigua e Meloidogyne paranaensis são grande problema no cafeeiro, assim como, Meloidogyne graminicola em arroz.

Várias outras espécies também são frequentemente relatadas em diversos hospedeiros, e variam conforme a região. Esses são, inclusive, algum dos fatores que tornam o nematoide de galhas o mais importante para agricultura no Brasil e no mundo.

Sintoma de galhas causado por Meloidogyne incognita em raízes de alface.
Sintoma de galhas causado por Meloidogyne incognita em raízes de alface.

Como ocorre a interação de Meloidogyne com a planta?

O nematoide, ao eclodir do ovo (juvenil de segundo estádio, J2), se encontra em uma fase vermiforme que migra pelo solo em direção às raízes atraído por substâncias produzidas pelas plantas.

Com o auxílio de uma estrutura especializada, o estilete, o nematoide perfura a parede celular e adentra no tecido radicular nas regiões de elongação da raiz. Em seguida, escolhe um grupo de células, na região central da raiz, as quais ele irá iniciar uma complexa interação que durará até o final do seu ciclo de vida.

Veja exemplos nas imagens abaixo:

Fase infectante de Meloidogyne, juvenil de segundo estádio (J2).
Fase infectante de Meloidogyne, juvenil de segundo estádio (J2).
Visão aproximada do estilete de um macho de Meloidogyne.
Visão aproximada do estilete de um macho de Meloidogyne.

A interação do nematoide com essas células começa por meio da injeção de substâncias que induzem a formação de um complexo de células especializadas, conhecidas como células gigantes, e da multiplicação desenfreada de células próximas.

Esse conjunto de células, que agora é responsável pela nutrição do nematoide, atrapalha a circulação de água e nutrientes ao longo da raiz, causando danos expressivos no desenvolvimento e na capacidade produtiva da planta.

Fêmea sedentária de nematoide de galha dentro de uma raiz com sintoma de galha e conjunto de células gigantes.
Fêmea sedentária de Meloidogyne dentro de uma raiz com sintoma de galha e conjunto de células gigantes.

Como é o ciclo de vida do Meloidogyne?

Para completar o ciclo de vida, o Meloidogyne necessita entre 25 e 30 dias, com variação de acordo com a espécie, temperatura e umidade. Cada nematoide pode gerar até 600 ovos, que darão início a um novo ciclo.

Em uma conta simples, considerando o ciclo de uma cultura como a soja, pode-se estimar que esse gênero complete até 4 ciclos na cultura. Ou seja, um único nematoide que infectou a planta ainda em suas fases iniciais de crescimento, pode gerar até 200 milhões de descendentes.

Fêmea de nematoide de galha e massa de ovos.
Fêmea de Meloidogyne e massa de ovos.

Os nematoides de galha são um dos grupos de nematoides mais agressivos às plantas cultivadas, principalmente devido à alta capacidade reprodutiva e ao severo dano que causam às raízes, além de serem difíceis de controlar e se alimentarem de uma ampla gama de hospedeiros.

Por essas e outras que é possível afirmar que não há como extinguir nematoides da área, mas sim conviver com eles buscando fazer com que causem o mínimo possível de danos.

Por ser abrigarem no solo e nas raízes das plantas os nematoides costumam passar despercebidos aos olhos dos técnicos e produtores. Portanto, fazer monitoramentos frequentes visando identificar o problema ainda no seu início é o primeiro passo para iniciar um plano de manejo eficiente e impedir a disseminação dos nematoides no restante da área.

Manejar nematoides muitas vezes parece complexo, pois, ao contrário de muitas pragas e doenças, não dá para ser feito apenas usando uma ferramenta. Atualmente, há uma série de produtos disponíveis no mercado que ajudam no manejo de nematoides e, embora sejam eficientes, é importante salientar que os resultados de controle são muito melhores quando os mesmos produtos são integrados a outras técnicas de manejo.

Medidas como o uso de cultivares resistentes ou com baixo fator de reprodução, aliado à rotação/sucessão de culturas com plantas não hospedeiras, são fundamentais para um manejo efetivo a longo prazo.

Além disso, iniciar o plantio sempre em áreas novas (menos infestadas) para só então ir para as velhas (mais infestadas), bem como, lavar os pneus dos tratores e implementos ao mudar de talhão, são práticas fundamentais para evitar a entrada dos patógenos. No caso dos nematoides, medidas preventivas são sempre as mais eficientes.

Texto escrito em parceiria com Daniel Dalvan do Nascimento, Engenheiro Agrônomo e Nematologista. Doutorando em Entomologia Agrícola pela Unesp/FCAV e com mestrado em Produção Vegetal pela mesma Universidade. Atualmente conduz pesquisas visando o controle biológico de nematoides e é sócio administrador da página @nematologiaemfoco.

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